Segundo a ONU, entre 2008 e 2015 em média 26,4 milhões de pessoas por ano se deslocaram de suas casas em função de desastres naturais

Fonte: Época

Segundo a ONU, entre 2008 e 2015 em média 26,4 milhões de pessoas por ano se deslocaram de suas casas em função de desastres naturais. Dados sugerem que chegam à União Europeia até 4 mil pessoas por dia. A Alemanha, que inicialmente havia se portado de modo receptivo e se configurara o principal ponto final de desembarque, já apresenta ânimos retraídos e a aceitação limitada à petição por asilo aos refugiados de guerra. Nesse contexto, é comum atribuir exclusivamente os atuais e complexos fluxos migratórios aos conflitos de ordem política, econômica e religiosa que ocorrem em economias subdesenvolvidas e emergentes, de forma desvinculada das questões ambientais. Associa-se instantaneamente a miséria e violência em zonas de conflito aos genocídios por grupos extremistas e às guerras civis, porque, de fato, ainda existe um desconhecimento generalizado em relação às mudanças climáticas e ao aumento da frequência de eventos extremos como panos de fundo ou até propulsores desses problemas.

O pior desastre climático do Brasil

No entanto, o aquecimento do planeta como causador (ou catalisador) de uma dinâmica migratória complexa e de conflitos é cientificamente conhecido. O quinto relatório do IPCC evidencia efeitos em cadeia. Prevê que as populações mais pobres e mais vulneráveis, por sua pouca capacidade de adaptação aos efeitos climáticos, terão de se deslocar para sobreviver, com cada vez mais frequência. Esse deslocamento trará impacto, especialmente, sobre as economias emergentes, tornando suas áreas urbanas ainda mais frágeis. Os conflitos e os deslocamentos nos locais de origem podem acontecer por diversos fatores ambientais. A mudança do clima promove a alteração dos ecossistemas, trazendo impactos negativos sobre a produção agrícola e comprometendo a segurança alimentar e o abastecimento de água, podendo gerar danos a infraestruturas e assentamentos, morbidade e mortalidade e consequências para a saúde mental e o bem-estar humano. Segundo o relatório do Grupo de Trabalho II do IPCC, “as ondas de calor, secas, inundações, ciclones e incêndios florestais revelam a significativa vulnerabilidade e a exposição de alguns ecossistemas – e de muitos sistemas humanos – à variabilidade climática atual”. A Síria, por exemplo, teve sua pior seca entre 2006 e 2011. Os recursos hídricos foram confiscados, e 75% das famílias perderam suas safras. É no ambiente de crise e êxodo rural que a violência e os conflitos armados se tornam proeminentes e o quadro de vulnerabilidade da população se agrava. Segundo a Agência ONU para Refugiados, o mesmo aconteceu na Somália em 2012 e 2013, em que o grande afluxo para o Quênia se deu tanto pela seca e pela fome que assolaram a região quanto por causa da opressão por grupos extremistas. O que foi mais importante? Essa é uma questão que será respondida pelos próximos anos.

Os problemas de adaptação e resiliência não se resumem à África e ao Oriente Médio, no entanto. A Ásia, nos últimos 20 anos, tem sido assolada por desastres naturais com maior frequência. O continente americano está ameaçado por inundações resultantes do aquecimento do oceano. De acordo com o primeiro relatório de avaliação nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), o Nordeste brasileiro enfrentará seca e perda de biodiversidade, e a agricultura, em todo o país, sofrerá rearranjos. O Plano Nacional de Adaptação prevê que o abastecimento urbano será fortemente impactado em função da alteração dos ciclos hidrológicos e do aumento da população nas cidades. A região metropolitana de São Paulo, por exemplo, já pode corroborar empiricamente essa afirmação.

Existe um caminho longo e desafiador a ser traçado para mantermos o aquecimento do planeta dentro do limite de 2,0°C até 2100 (com a intenção de 1,5°C), conforme a meta do Acordo de Paris de 2015. Os investimentos em adaptação e mitigação deverão ser urgentemente estudados e desembolsados e as ações de governos e tomadores de decisão, audaciosas, efetivas e planejadas de forma integrada, principalmente para combater questões complexas e dinâmicas, como a questão dos refugiados do clima. Que este “espírito olímpico verde” nos ajude a apressar os passos rumo ao conhecimento dos grandes problemas de base e não apenas a ponta dos icebergs. Senão, viveremos de engano e satisfeitos com medidas paliativas até que seja tarde demais.

 

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