Para gerar R$ 1 no PIB, Brasil consome em média 6 litros de água, aponta IBGE

Uma pesquisa inédita divulgada nesta sexta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela a relação entre o consumo de água e a geração de riqueza para o país. Em média, segundo o levantamento, para cada R$ 1 de valor adicionado bruto ao Produto Interno Bruto (PIB) são consumidos seis litros de água.

Foram analisados os dados de uso da água entre os anos de 2013 e 2015. Para fazer o levantamento, o IBGE contou com as informações da Agência Nacional de Águas (ANA). A pesquisa buscou detalhar quanta água cada um dos setores econômicos do país demanda e relacionar o uso do recurso hídrico com a geração de riqueza para o país.

O setor agropecuário – que inclui as atividades relacionadas à agricultura, pecuária, pesca, produção florestal e aquicultura – é o que demanda o maior consumo de água para geração de valor no PIB. Para cada R$ 1 de valor adicionado bruto, o setor demanda 91,5 litros de água. Já o setor de eletricidade e gás demanda 1,2 litro de água para gerar o mesmo R$ 1.

“O ideal é que o consumo seja menor para cada real adicionado”, enfatizou o analista da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Michel Lapip.

Questionado se é possível qualificar se o volume de água usada é eficiente em relação à geração de riqueza, o pesquisador enfatizou que é necessário um número maior de pesquisas para permitir esta análise.

“É um primeiro número. É um estudo novo. Uma informação nova. À medida que nós publicarmos novas informações, será possível avaliar melhor se é muito ou se é pouco [o consumo de água em relação à geração de riqueza”, disse Lapip.

Ao relacionar o uso da água e a geração de riqueza, o IBGE tentou traçar um panorama da eficiência do consumo do recurso hídrico frente ao PIB. Michel Lapip ponderou, no entanto, que comparar a eficiência de cada setor com base nesta comparação é delicado, uma vez que cada setor produtivo tem uma demanda distinta pelo recurso hídrico. A agricultura, por exemplo, depende intrinsicamente de água para irrigação das lavouras, enquanto o setor de serviços, por exemplo, demanda pouca água para seu funcionamento.

Arte mostra quanto cada setor gera para o PIB com consumo de água (Foto: Cláudia Peixoto/G1)

Arte mostra quanto cada setor gera para o PIB com consumo de água (Foto: Cláudia Peixoto/G1)

“Cabe destacar que o indicador poderia ter sido calculado em relação ao uso total de água, em vez do consumo de água. Dessa forma seria evidenciada uma maior intensidade do uso de água pelas hidrelétricas na atividade Eletricidade e Gás”, ressaltou o IBGE.

O pesquisador Michel Lapip enfatizou que não é possível fazer uma comparação internacional desta relação da água com a economia. “Os países são muito distintos em relação aos seus corpos hídricos e suas economias. Existem países que têm economia que não usa muita água, por características deles. Por exemplo, países menores que exploram mais o turismo [que outras atividades econômicas”, ponderou.

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Captação direta da água

Segundo a pesquisa, em 2015, foram retirados 3,2 milhões de hectômetros cúbicos (hm³) – o equivalente a 3,2 trilhões de metros cúbicos ou 3,2 trilhões de caixas d’água de mil litros cada – de água das reservas hídricas do país.

No mesmo ano, o total de recursos hídricos renováveis no país – ou seja, toda a água disponível no território brasileiro – era de 6,2 trilhões de m³. Isso equivale a 30,3 mil de metros cúbicos por habitante, ou 30,3 mil caixas d’água de mil litros para cada brasileiro.

“A maior parte é retirada diretamente da natureza e não da rede de abastecimento”, afirmou Lapip.

De acordo com o levantamento, enquanto 91,1% do volume de água usado para consumo das famílias provém da rede de abastecimento, os setores econômicos retiram a maior parte da água que utilizam diretamente do meio ambiente.

O setor que mais retira água das reservas naturais – seja diretamente de rios ou riachos ou poços artesianos, por exemplo – é o de eletricidade e gás. Todo o volume retirado por este setor é usado, mas não consumido e, por isso, retorna integralmente à natureza.

Em segundo lugar no ranking de captação direta da água estão as indústrias extrativas, seguidas das indústrias de transformação e construção. O setor agropecuário aparece em quarto lugar neste ranking.

Média de uso da água entre 2013 e 2015  (Foto: Cláudia Peixoto/G1)

Média de uso da água entre 2013 e 2015 (Foto: Cláudia Peixoto/G1)

A captação direta da água, esclareceu o pesquisador Michel Lapip, tem cobrança diferenciada em cada bacia hidrográfica do país. “Uma parcela pequena das bacias têm a cobrança de recursos hídricos”, destacou. Ou seja, a maior parte da água consumida pela atividade das indústrias e do setor agropecuário não é tarifada.

Ele lembrou que, no entanto, há cobrança diferenciada pelas companhias de distribuição de água para pessoas físicas e jurídicas. Assim como ocorre na cobrança por energia elétrica, as empresas pagam mais caro pelo recurso que as famílias.

A pesquisa destacou, ainda, que praticamente todo o volume de água retirado das reservas foi devolvido ao meio ambiente. “A qualidade da água que é devolvida ao meio ambiente não foi escopo do estudo”, ponderou a gerente da pesquisa Rebeca de La Rocque Palis. O retorno da água se dá tanto pela rede de esgotamento quanto, por exemplo, pela chuva ou mesmo pelo processo de transpiração das plantas.

Desigualdade regional

Considerando a intensa reserva hídrica do país e que não há déficit entre a captação da água e seu retorno ao meio ambiente, o pesquisador Michel Lapip foi enfático ao afirmar que “o problema do Brasil não é a falta de água, mas a distribuição”.

O IBGE destacou que, conforme o levantamento feito, constatou-se que, na média, o país utiliza apenas pouco mais da metade de seus recursos hídricos na economia. Ainda assim, mais de 99% dessas retiradas são devolvidas à natureza (um exemplo disso são as hidrelétricas). Somente 0,5% dos recursos hídricos (ou 30,6 bilhões de metros cúbicos) são, de fato, consumidos pelas famílias e pelas empresas.

De acordo com o superintendente da Agência Nacional de Águas, Sérgio Ayrimoraes, a partir do levantamento sistemático do uso da água pelas atividades econômicas poderá ser possível estabelecer políticas a fim de minimizar as desigualdades no abastecimento hídrico. Um exemplo dado por ele é o de priorizar as atividades agrícolas onde haja maior reserva hídrica, priorizando o abastecimento domiciliar nestas regiões.

“Essa questão da distribuição é extremamente importante. Apesar do país ser reconhecido pelo grande volume de água disponível, ele não está distribuído de forma igual no nosso território. Então, essa associação entre a quantidade de água e as atividades econômicas, além de entendermos essas desigualdades regionais, será importante para que nós possamos ter políticas públicas que tratem dessas desigualdades de forma apropriada”, disse.

Fonte: G1

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