Nas ruas do mundo, a juventude que cobra e se empenha em mudar o rumo do aquecimento global

Nas ruas do mundo, a juventude que cobra e se empenha em mudar o rumo do aquecimento global

Jovens de mais de cem países pretendem protestar hoje nas ruas por causa dos excessos que a humanidade vem cometendo contra a natureza, o que vem causando aquecimento do planeta e mudanças climáticas perigosas para todos, sobretudo para os mais pobres. No mapa da organização do evento, o Brasil está marcado em algumas cidades, entre elas o Rio de Janeiro, onde, segundo as informações, moças e rapazes vão se reunir em frente à Prefeitura a partir das 8h. Há países da Europa mais bem organizados, assim como a Austrália. Nos Estados Unidos, uma juventude ativista repetidamente invade os corredores do Congresso para protestar. O grito é contra a absoluta apatia dos adultos diante do que vem acontecendo.

A “Fridays for Future” é um evento encabeçado por Thunberg, 16 anos. A ela se juntou, mesmo à distância, Alexandria Villasenor, norte-americana de 13 anos, que há 14 semanas vem se expondo ao frio e ao vento em frente ao prédio das Nações Unidas, em Nova York, para fazer seu protesto. A menina já foi internada algumas vezes por causa da péssima qualidade do ar na Costa Oeste dos Estados Unidos, onde morou com a mãe.

“Minha geração é a mais impactada. Alguns dos meus colegas na escola não entendem, mas eu estou tentando educá-los. Estamos pressionando os líderes mundiais porque não temos tempo para esperar”, disse ela à reportagem da agência de notícias Al Jazeera.

A torcida é para que os jovens, de fato, consigam afetar os dirigentes, de empresas e países, para um tema que nem sempre tem recebido a atenção que merece. Enquanto isso, os impactos contra a natureza recrudescem, se espalham e afetam até mesmo pequenas criaturas, além de criar tsunamis de problemas. Uma notícia recente, publicada semana passada pela Agência Pública e pela ONG Repórter Brasil, dá conta de que apicultores brasileiros descobriram que, em três meses, meio bilhão de abelhas foram mortas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

As abelhas foram abatidas pelo uso de agrotóxicos, descobertos em cerca de 80% dos enxames mortos. Entre os produtos encontrados estão os neonicotinoides e o Fipronil, banidos da União Europeia, justamente por causa de seu alto potencial de danos ao meio ambiente e aos homens. Mas estão liberados no Brasil. Só para resumir o grau do dano, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas.

O uso de agrotóxicos é necessário em monoculturas e em plantações de produtos transgênicos. E aqui podemos diversificar ainda mais o assunto de hoje, que começou com a notícia dos jovens conscientes de que sua geração será mais prejudicada do que a anterior por causa das mudanças climáticas.

Apresentado durante a Assembleia do Meio Ambiente da ONU que está terminando hoje em Nairóbi, capital do Kenya, país africano, um relatório preparado por mais de 400 cientistas pela agência da ONU que cuida do meio ambiente, que se chamou Global Chemicals Outlook, mostra que o tamanho da indústria química global ultrapassou US$ 5 trilhões em 2017 e que este valor está previsto para dobrar até 2030. Por causa disso, escrevem os pesquisadores, “os países não cumprirão o objetivo acordado internacionalmente para minimizar os impactos adversos de produtos químicos e resíduos até 2020, o que significa que medidas urgentes são necessárias para reduzir mais danos à saúde humana e às economias”.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 1,6 milhão de pessoas morreram em 2016 em decorrência de doenças causadas por produtos químicos. A poluição química também ameaça uma série de serviços ecossistêmicos, como no caso das abelhas brasileiras. De produtos farmacêuticos à proteção de plantas, os produtos químicos desempenham um papel importante na sociedade moderna e no alcance das metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

“As descobertas do segundo Global Chemicals Outlook são muito importantes para os países em desenvolvimento, já que a produção e o consumo de produtos químicos estão mudando para economias emergentes, em particular a China. Estima-se que a região da Ásia-Pacífico vá responder por mais de dois terços das vendas globais até 2030”, diz o relatório.

E, se a questão é o lucro, os especialistas que estudaram para escrever o relatório avisam: ações para minimizar os impactos negativos causados por produtos químicos poderiam ajudar a fazer uma baita economia. O tema deste ano da Quarta Assembleia do Meio Ambiente da ONU foi soluções inovadoras para os desafios ambientais e consumo e produção sustentáveis.

No último dia do encontro, a China anunciou que vai sediar as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente em 5 de junho de 2019 com o tema sobre poluição do ar, outro assunto que interessa muito os jovens, já que aproximadamente sete milhões de pessoas no mundo morrem prematuramente a cada ano devido à poluição do ar. O Dia Mundial do Meio Ambiente de 2019 vai estimular governos, indústria, comunidades e indivíduos a se unirem para explorar a energia renovável e as tecnologias verdes, além de melhorar a qualidade do ar em cidades e regiões de todo o mundo.

A questão, que se impõe, é que são temas que vêm sendo debatidos recorrentemente, com poucos avanços. Que a juventude, mais ágil e assertiva na hora de exigir seus direitos, se empenhe cada vez mais e passe a engrossar as fileiras de quem consegue enxergar possibilidades de mudança no nosso paradigma civilizatório.

 

Fonte: G1