Os reflexos da mensagem da Rainha Elizabeth, que aboliu uso de peles de animais em suas roupas

Excelente a notícia, divulgada esta semana pelo Palácio de Buckingham, em Londres, sobre a decisão da Rainha Elizabeth, que a partir de agora, quando tiver que se esquentar para ir bem vestida a uma festa, vai lançar mão de tecidos inovadores que imitam peles de animais e ficam muito bem. Até então, ela dava um péssimo exemplo a seus súditos, já que demonstrava não se incomodar com os maus tratos a que são submetidos cem milhões de animais por ano, mundo afora, para embelezar homens e mulheres.

“Nas fazendas de peles, os animais são confinados a gaiolas de arame, não podem fazer qualquer coisa que seja natural e importante para eles. No fim de um tempo, são mortos por eletrocussão, quebra de pescoço ou afogamento”, explica o site da organização Pessoas para o Tratamento Ético dos Animais (Peta, na sigla em inglês).

A mesma Peta, no entanto, dá uma outra sugestão à monarca. Que ela se encarregue de ordenar que seus soldados parem de desfilar em bonés feitos de peles de ursos abatidos no Canadá. Há peles falsas de ursos, que também podem mantê-los quentes e chiques, avisam os ambientalistas.

Seja como for, a atitude da Rainha foi comemorada, e não é sem razão. Cá do meu posto de observação avançado, no entanto, ousei uma exclamação diferente:

“Mas a Rainha ainda usava peles de animais??”

Minha observação veio com uma constatação igualmente abusada. Penso que a relação entre a monarca e seu filho Charles, o Príncipe de Gales, deve andar meio abalada. Mas pode ser que ela, com tantos afazeres que a realeza é obrigada a cumprir, não tenha tido tempo para se dedicar mais propriamente ao que seu filho andava lendo. Digo isto porque tenho aqui na estante um excelente livro escrito por ele, chamado “Harmony – A Revolução da Sustentabilidade” (Ed. Elsevier), em que Charles se compromete com todas as questões próprias aos ambientalistas. A biodiversidade, entre elas.

Charles viajou à Nova Zelândia, mais especificamente à localidade de Taiaroa, que fica na extremidade norte da Península de Otago, onde está formada a única colônia continental de albatrozes do mundo. E se emocionou com estes pássaros, que descreveu assim em seu livro:

“São criaturas enormes. Brancos, com longas asas pretas, são, sem dúvida, os pássaros mais majestosos da natureza. Eles fazem seus ninhos em paz porque desfrutam da proteção complete da legislação da Nova

Zelândia… Porém, 21 das 24 espécies de albatrozes atualmente são consideradas ameaçadas de extinção…”

O algoz dos albatrozes, como vocês já devem ter percebido, é o ser humano. A pesca predatória causa a morte de muitos desses pássaros, sob forma indireta:

“Milhares de milhas de seus portos de origem, barcos espinhaleiros também patrulham esses oceanos inóspitos (por onde vagueiam os albatrozes). Eles fazem pesca predatória e pegam os peixes em linhas com mais de 120km de comprimento com anzóis iscados em linhas secundárias com dezenas de milhares de pequenas lulas – o alimento dos albatrozes. O propósito dos anzóis é capturar espécies valiosas como a merluza negra, atum e peixe-espada, mas as iscas também são mortais para os albatrozes. Os pássaros mergulham em direção aos anzóis com as iscas e as rebarbas afiadas atravessam seus bicos ou garganta. Os pássaros lutam em vão para se libertar e, em seguida, morrem de forma dolorosa por causa da perda de sangue ou por afogamento”, descreve o príncipe Charles.

Fico imaginando, depois de ter tido uma educação tão sensível às causas da biodiversidade, como deve ter sido complexa a discussão em família até a decisão da Rainha e consequente reflexo internacional de seu gesto tão esperado por todos. Segundo o site da Peta, os animais que são mortos para que suas peles possam server à moda, “São capturados em armadilhas com mandíbulas de aço na natureza e deixados para definhar – às vezes por dias – antes de sucumbir à desidratação, fome, doença ou ataques de predadores ou serem espancados até a morte por caçadores que retornam”.

Fonte: G1