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Energia limpa no Brasil: por que a transição anda a passos lentos?

Compreenda os motivos que impedem o Brasil de liderar definitivamente a transição energética
Energia limpa no Brasil: por que a transição anda a passos lentos?

A famosa frase “gigante pela própria natureza” não é um exagero patriótico ou um mero refrão quando se analisam os dados biogeográficos do Brasil. 

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil tem a maior diversidade de espécies do mundo, espalhadas em seis biomas terrestres e três ecossistemas marinhos.  

A proteção de toda essa riqueza natural passa por mudanças importantes nas estratégias de preservação e pela escolha de ações sustentáveis concretas e duradouras. 

Uma delas é o uso de energia limpa. 

Energia limpa, a base para a conservação ambiental 

Graças à sua matriz elétrica majoritariamente hidrelétrica e ao potencial inexplorado de energia solar, eólica e biocombustíveis, o Brasil é uma referência mundial na geração de energia limpa.  

No entanto, a presença de alguns obstáculos estruturais que impedem o país de consolidar uma transição energética verdadeiramente sustentável e diversificada.  

Não é apenas a falta de uma tecnologia mais avançada e mais investimentos. Outros fatores impedem uma evolução mais significativa da energia limpa no Brasil.  

Entre eles, podemos citar os entraves regulatórios, problemas de gestão, a falta de direcionamento de recursos e uma dependência histórica de modelos ultrapassados. 

A tradição das usinas hidrelétricas: um desafio a superar 

O Brasil construiu sua matriz energética em torno das hidrelétricas, que respondem por cerca de 60% da geração elétrica nacional.  

Porém, apesar de serem renováveis, essas usinas têm diminuído sua capacidade de geração de energia devido à dependência de regimes de chuvas imprevisíveis.  

Tivemos dois exemplos marcantes de crises hídricas em 2015 e 2021.

Ademais, eventos extremos de impactos ambientais desafiadores têm ocorrido com maior frequência e estamos, por esse motivo, diante da saturação de locais viáveis para novas barragens. 

Atualidades sobre ESG

A realidade brasileira: contrastes com outros países

Enquanto países como China diversificam agressivamente suas fontes renováveis, o Brasil ainda trata a hidreletricidade como solução central. Nesse sentido, o país deixa de lado a oportunidade de abrir espaço para investimentos em alternativas mais resilientes, como as energias solar e eólica.  

O Plano Decenal de Energia 2032 (PDE 2032) prevê que as hidrelétricas continuarão sendo a principal fonte de energia, acompanhada de um avanço gradativo das fontes alternativas.  

Em 2018, o governo brasileiro sinalizou que a era das hidrelétricas havia terminado e que, por isso, abdicava da construção de novas usinas. Uma das alegações – justa, por sinal – era de que as grandes barragens e plantas envolviam riscos ambientais e a desapropriação de terras indígenas e quilombolas. 

Apesar disso, não parece haver uma postura diferente prevista para os próximos anos. 

Por outro lado, o relatório da Ember Energy, publicado neste abril de 2025, revela que as energias renováveis superaram 40% da geração global de energia.

E o Brasil, no ano da COP30, deve seguir essa tendência, se desvencilhando cada vez mais da necessidade da hidreletricidade, que traz custos financeiros, ambientais e sociais. 

Regulamentações complexas: o freio para os investimentos? 

Sem dúvida, um dos maiores obstáculos para o avanço da energia limpa no Brasil é a complexidade da legislação e a incerteza regulatória.  

Leis desatualizadas, lentidão na concessão de licenças e uma carga tributária fragmentada desencorajam – e muito! – os investidores.  

Por exemplo, um projeto de energia eólica offshore na região Nordeste pode levar até cinco anos para sair do papel devido a entraves ambientais e disputas fundiárias, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica. Em comparação, em países como a Alemanha, o prazo para desenvolver e realizar um projeto dessa natureza cai pela metade. 

Além disso, o adiamento do sistema de leilões de energia, que deveria impulsionar as energias renováveis, cria insegurança jurídica.

Um Projeto de Lei ambíguo

Para combater esse desafio, um marco regulatório, capaz de agilizar a entrada em operação de instalações de energias limpas é imprescindível. O Projeto de Lei (PL)  576/2021 que prevê a instalação de parques eólicos no mar territorial esteve em tramitação durante três anos. Finalmente, recebeu a aprovação em dezembro de 2024.  

No entanto, o texto-base desse PL sofreu modificações. Entre elas, houve a inclusão de dispositivos para o beneficiamento de usinas termoelétricas a carvão e gás natural. Esses adendos representam um atraso imenso, uma corrida em direção totalmente contrária à proposta de descarbonização centrada no Acordo de Paris. 

Ainda em tramitação no Senado, é um exemplo notório de como o Brasil ainda precisa revisar e atualizar suas políticas no âmbito da transição energética. 

Falta de infraestrutura para o uso de energias intermitentes 

As energias solar e eólica são por natureza intermitentes, isto é, dependem de sol e vento. Então, para que essas fontes ganhem escala e sejam verdadeiramente eficientes, é preciso desenvolver sistemas de armazenamento (baterias) e contar com linhas de transmissão potentes e destinadas a esse fim. No entanto, o Brasil ainda possui limitações nesse âmbito. 

Segundo o Ministério de Minas e Energia, nosso país possui mais de 185 mil quilômetros de linhas de transmissão de energia. No entanto, apenas 12% desse total se destinam à transmissão da energia eólica e 5% à energia solar.  

A região líder em geração de energias limpas é o Nordeste. Porém, com a falta de subsídios para incrementar as linhas de transmissão, as demais regiões não recebem todo o potencial energético gerado pelos parques nordestinos. E nem o Nordeste avança mais do que poderia para abastecer o Brasil. 

Um passo para frente e outro para trás 

Em 2023, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou o registro da entrada em operação comercial de 79 usinas eólicas e 16 fotovoltaicas.  

No mesmo ano, a ANEEL realizou um leilão para incentivar a conexão de novas linhas de transmissão nos estados da Bahia e de Minas Gerais. Um grupo brasileiro arrematou o lote para a construção de 1.600 km de linhas de transmissão para energias renováveis. Além de incrementar um pouco mais o uso de energia limpa, a proposta tinha como objetivo a geração de mais de 8 mil empregos. 

Porém, em 2024, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e a ANEEL alegaram que o aumento na produção de energia eólica e solar poderia comprometer o abastecimento por energia elétrica. Assim, as usinas de renováveis tiveram seu funcionamento suspenso até que haja uma decisão jurídica, pendente até o fechamento deste artigo (abril/2025).  

Mas esse não é o único entrave para as energias limpas. Projetos de baterias em grande escala ainda são incipientes, deixando o país refém de termelétricas fósseis funcionando como backup em períodos de baixa geração renovável.  

Em suma, a falta de investimentos maciços em infraestrutura inteligente e a recorrência de conflitos jurídicos colocam freio à expansão da energia limpa no Brasil. 

Mas, apesar de todos esses desafios, muitos especialistas acreditam que no ano da COP30, a visibilidade e protagonismo do país como sede do evento devem acender a luz verde para um maior investimento em fontes renováveis.

Afinal, esse é um dos eixos centrais da COP de Belém. 

A dependência tecnológica pelo baixo investimento em P&D 

O Brasil tem um grande potencial para ser um hub de tecnologia em energias renováveis, tanto na produção e fornecimento como centro de estudos sobre o assunto. Contudo, é quase insignificante o investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no setor.  

Vale ressaltar que há vários anos, em diferentes governos, o país tem cortado o orçamento da pesquisa acadêmica, um dos principais nichos de inovação tecnológica e formação de profissionais capacitados a solucionar desafios como o da transição energética.

Mais ainda, dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que a grande fatia dos investimentos se destina ao petróleo, gás e energia elétrica, com uma pequena porção alocada para o setor de biocombustíveis. 

A indústria nacional de equipamentos para energia limpa também é frágil. Cerca de 80% dos painéis solares instalados no país são importados da China, tornando o Brasil dependente de variações cambiais e crises globais de suprimentos.  

Essa se tornou uma preocupação importante em 2025, quando o mundo trava uma guerra tarifária que alimenta incertezas.  

Deste modo, sem uma estratégia industrial robusta para a produção de insumos para renováveis, o país continuará na posição de consumidor, não de produtor de tecnologia. 

Como começar a desatar os nós?  

Diante dos dados apresentados, parece que estamos longe de atingir o ideal, mas não é exatamente assim. Há uma perspectiva verdadeiramente otimista que se destaca nesse cenário.  

A evolução da energia limpa no Brasil se alterna com os problemas citados e o país atualmente tenta conciliar as dificuldades através de ofertas de recursos oriundos da parceria público-privada.  

Então, é necessário continuar estimulando essas ações positivas que já estão em curso.  

O Brasil é o único país do mundo a ter um programa de financiamento climático, o Programa de Integração de Energia Renovável (REI). O REI busca a aceleração dos processos de descarbonização e transição energética, além de estimular a expansão de tecnologias como o hidrogênio verde.  

O REI também apoia o Programa de Integração de Energias Renováveis para o Nordeste do Brasil. Através de um financiamento concessional, com apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), empresas privadas podem investir em tecnologias que integrem fontes renováveis variáveis (VRE) ao sistema elétrico nacional. 

Há também empresas privadas e associações como a Absolar que facilitam o networking entre entidades e investidores para o incremento nas tecnologias para energia limpa.  

Nesse sentido, a Eccaplan também tem ganhado destaque. Em diversos eventos dirigidos a diferentes setores, Fernando Beltrame tem se consolidado como um especialista e palestrante convidado para falar sobre temas como descarbonização e financiamento climático.  

Além disso, Beltrame oferece cursos e treinamentos específicos como a Jornada ESG, entre outras estratégias de atualização, personalizadas para cada empresa, abrangendo temas importantes como este do presente artigo.  

Então, se quiser saber mais sobre este e outros assuntos no âmbito da sustentabilidade, conte com a equipe da Eccaplan para ajudar você e sua empresa a participar dessa transformação “verde”.

Entre em contato com a gente!

Palestras e treinamentos ESG

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