Dia da Consciência Negra: sustentabilidade é inclusão

Bate-papo especial com nosso analista ambiental, Filipe de Oliveira, sobre o Dia da Consciência Negra.
Filipe de Oliveira, analista ambiental da Eccaplan

Neste 20 de novembro, o Brasil celebra o Dia de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra como feriado nacional.

Nesse sentido, este recente e importante marco nos convida a refletir não só sobre a história e a luta da população negra, mas o quanto estamos avançando num tema tão importante e caro para a sociedade brasileira.

Mais ainda, nos leva a repensar os caminhos necessários para construir um país verdadeiramente igualitário, sustentável e plural.

Afinal, não há a menor dúvida de que sustentabilidade e inclusão são indissociáveis.

Futuro mais justo

Não há futuro possível enquanto comunidades permanecem invisibilizadas, territórios negligenciados concentram os impactos ambientais mais severos e vozes essenciais são silenciadas.

Além disso, falar de clima, resíduos e justiça socioambiental é, inevitavelmente, falar de equidade racial.

Por isso, neste 20 de novembro de 2025, convidamos nosso analista ambiental, Filipe de Oliveira, para compartilhar sua trajetória, reflexões e vivências.

Certamente, seu relato ilumina, com potência e verdade, como a sustentabilidade prática nasce do território e se guia pela ancestralidade.

A seguir, você confere a entrevista completa.

Entrevista: representatividade e sustentabilidade em diálogo

Eccaplan

No Dia da Consciência Negra como feriado oficial em todo o Brasil, queremos ouvir mais sobre sua trajetória, tanto pessoal quanto profissional. Conta para a gente sobre um pouco da sua jornada até se juntar ao nosso time.

Filipe

Sou Filipe, um homem negro, periférico e de terreiro, nascido no Grajaú. Crescer às margens da Represa Billings me colocou em contato direto com a natureza e foi fundamental para eu buscar propósito em uma nova carreira.

Criei um projeto de coleta de recicláveis e plantio na represa, que foi o meu pontapé inicial.

Daí, busquei especialização com o curso da Colorado State University e ingressei na faculdade de Gestão Ambiental.

Minha transição de carreira se consolidou com experiências em ESG na Befly, estágios em sustentabilidade na Casa Cor e na ABINAM, onde fui promovido a Analista Ambiental.

Hoje, atuo na Eccaplan focando em resíduos sólidos, renovando um ciclo que começou na minha própria comunidade.

Eccaplan

Você atua hoje como analista ambiental, e já teve uma experiência acadêmica numa universidade dos Estados Unidos. Como essas construções dialogaram com suas expectativas de mais inclusão e reconhecimento?

Filipe:

O curso foi fundamental para minha expectativa de inclusão, pois validou, em uma metodologia internacional, algo que minha vivência já me ensinava: a conservação só é efetiva quando inclui as pessoas.

Aprendi conceitos como “contexto territorial e relacionamento comunitário”, que nada mais são do que a formalização acadêmica de práticas que comunidades tradicionais e povos originários do Sul Global sempre executaram.

Essa experiência me mostrou que a verdadeira inovação em sustentabilidade não vem apenas de novas tecnologias, mas de olhar para as tecnologias ancestrais desses povos para viver em harmonia com o meio ambiente.

Foi um diálogo que fortaleceu meu reconhecimento pelo valor do saber que carrego em minha história e origem.

Eccaplan:

Especificamente, falando do teu trabalho na Eccaplan, de que maneira você conecta a sustentabilidade com a transformação social? O quanto esses conceitos têm a ver na tua opinião?

Filipe:

Na minha opinião, sustentabilidade e transformação social são conceitos indissociáveis. Quando ignorados pelo poder público e privado, o resultado é o racismo ambiental, a desigualdade social e a falta de saneamento.

Quando aplicados de forma verdadeira, tornam-se ferramentas de equidade: valorização de catadores, agricultura urbana sem agrotóxicos, compensação de CO₂.

São ações que fortalecem cadeias produtivas, incluem atores marginalizados e redistribuem recursos, gerando transformação social real.

Eccaplan:

De forma geral, quando falamos em racismo estrutural, muitas pessoas ainda pensam que é algo distante do cotidiano, inclusive das empresas.

Como você vê o tema do letramento racial dentro do ambiente corporativo? Tem melhorado ou ainda estamos longe do ideal?

Filipe:

O racismo estrutural está incrustado na sociedade e se manifesta diariamente — desde a marginalização histórica do samba e das religiões de matriz africana até microagressões atuais: questionar se lavo o cabelo, pressão para alisá-lo, dress code que exclui identidades. Aparência ainda é critério velado para promoções.

Estamos longe do ideal.

Para mudar, é preciso ser ativamente antirracista: repensar atitudes, fazer o “teste do pescoço” para observar quantas pessoas negras ocupam posições de igualdade, e entender que o racismo é problema criado por pessoas brancas — e o letramento deve partir delas.

Quando consultarem pessoas negras, que as remunerem por esse trabalho intelectual.

Eccaplan:

E como pessoas brancas podem participar desse processo de aprendizado e desconstrução sem ocupar o lugar de fala, mas estando presentes e comprometidas com a mudança?

Filipe:

Elas precisam migrar de uma postura passiva (“não ser racista”) para uma postura ativa (“ser antirracista”).

Isso inclui:

  • Se posicionar: não ser conivente com piadas ou atitudes racistas, mesmo em ambientes privados.
  • Usar seu privilégio: amplificar vozes negras em situações de conflito ou discussão.
  • Buscar letramento: estudar, ler e se educar sobre racismo sem exigir trabalho emocional gratuito de pessoas negras.

Eccaplan:

Então, para encerrarmos, que mensagem você deixaria para este Dia da Consciência Negra, especialmente para quem está buscando alcançar solidez e inclusão plena em um mundo que ainda precisa vencer preconceitos?

Filipe:

Dia da Consciência Negra não é de comemoração vazia, mas de luta e reflexão. Estamos longe de conquistas plenas; por isso, nosso caminho deve ser estratégico.

Primeiro, busque sua comunidade e encontre força nos seus. Construa redes de apoio e avance coletivamente.

Segundo, busque conhecimento técnico, ande de cabeça erguida.

Terceiro — e mais importante — busque sua ancestralidade. A natureza é arquivo vivo de saberes; nela aprendemos tecnologias sociais profundas deixadas pelos nossos ancestrais.

Como dizem os Racionais MC’s: “por você ser preto, você tem que ser duas vezes melhor”. Que nossa luta coletiva transforme essa realidade em um vestígio de um passado distante.

Por que essa conversa é importante para a Eccaplan e para todos?

Para nós, a sustentabilidade só se concretiza quando caminha lado a lado com a justiça social.

Assim, ouvir e valorizar histórias como a do Filipe é uma parte fundamental do nosso compromisso diário com a diversidade, a equidade e a inclusão.

Afinal, esses são os pilares essenciais para a verdadeira transformação dos territórios e das comunidades que compõem as cadeias socioambientais do Brasil.

Por fim, neste 20 de novembro, reafirmamos uma convicção: não haverá futuro sustentável sem o combate ao racismo.

E não haverá combate efetivo ao racismo sem escuta ativa, ação concreta e responsabilidade coletiva.

Eccaplan, compromisso com a verdadeira sustentabilidade.

Soluções sustentáveis da Eccaplan para empresas

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