‘Favela verde’ tenta surgir como símbolo de sustentabilidade na periferia

Por Livia Fernanda da Jovem Pam

À primeira vista, uma comunidade da Zona Oeste de São Paulo parece ser mais uma favela de crescimento desordenado — como tantas pelo Brasil. Se olhar mais de perto a horta comunitária, o sistema de captação de água da chuva e as casas de argila fazem da Vila Nova Esperança ser conhecida como a “Favela Verde”.

A força por trás desse lugar é a líder Lia de Souza, de 57 anos, que há uma década, luta para a comunidade ter um modelo de vida sustentável. “É uma ideia porque não tem dinheiro e outra porque também é sustentável. Ajuda o bolso e a natureza.”

Com as próprias mãos, Lia de Souza usa a massa feita de cimento e argila para montar uma brinquedoteca para as crianças. “Se for colocar no papel, eles não vão entender. Então eu fico perto falando o que eles vão fazer. Onde precisa cavar, o que precisa fazer. Ninguém sabe fazer nada, a gente aprende junto.”

A comunidade também ergueu paredes de sacos de areia para conter os deslizamentos de terra, recorrentes durante o período de chuvas. O engenheiro civil e voluntário, Rodrigo Calisto, explica que esta é uma solução simples e que pode ser replicada em todos os lugares. “São sacos de laranjas ou batatas com terra ensacada. Fazemos esses muros de contenção. Não tem perigo para as casas que estão na parte de baixo.”

Localizada em um morro rodeado de mata atlântica, autoridades tentaram despejar os moradores — alegando que as construções estão em área protegida. A doação municipal de R$ 1050 por mês, que paga os moradores para trabalhar em projetos comunitários, está prestes a terminar.

Segundo a líder Lia de Souza, se a concessão terminar, a comunidade da Vila Nova Esperança vai continuar se reinventando com os recursos da natureza.