Tecnologias agrícolas sustentáveis

A agricultura convencional e o agronegócio por um lado trazem vários benefícios econômicos para o Brasil, mas por outro deixam consequências muitas vezes irreversíveis ao meio ambiente. O próprio mercado consumidor já esta atento a qualidade dos produtos da agricultura convencional preferindo quando possível produtos orgânicos. Mas a agricultura orgânica é na verdade só uma das formas de produção agrícola sustentável. Reunimos definições de várias formas de produção agrícola sustentável quem vem chacoalhando modos de vida e desmistificando a máxima “não tem como alimentar a população sem agrotóxico” através de impressionantes índices de produtividade.

Trazemos três conceitos que permeiam metodologicamente as práticas da agricultura orgânica: pemacultura, agroecologia e agricultura sintrópica. Cada um desses conceitos traz uma abordagem diferente mas todos com o mesmo objetivo: realizar uma agricultura de alta qualidade nutricional levando em consideração os ciclos da natureza e a saúde humana.

Permacultura

Permacultura é uma expressão originada do inglês “Permanent Agriculture” e foi criada por Bill Mollison e David Holmgren na década de 70 do século passado. Ao longo dos anos ela passou a ser compreendida como “Cultura Permanente”, pois passou a abranger uma ampla gama de conhecimentos oriundos de diversas áreas científicas, indo muito além da agricultura. Nos dias atuais, a permacultura transpassa desde da compreensão da ecologia, da leitura da paisagem, do reconhecimento de padrões naturais, do uso de energias e do bem manejar os recursos naturais, com o intuito de planejar e criar ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza.

Atualmente a permacultura é considerada uma ciência holística e de cunho socioambiental, que congrega o saber científico com o tradicional popular e visa, é claro, a nossa permanência como espécie na Terra. A permacultura possui três éticas e alguns princípios de planejamento que são baseados na observação da ecologia e da forma sustentável de interação, produção e de vida das populações tradicionais com a natureza, sempre trabalhando a favor dela e nunca contra.

Éticas

  1. Cuidar da terra
  2. Cuidar das pessoas
  3. Cuidar do Futuro (Dixon, 2014; Harland, 2018; McKenzie e Lemos, 2008) incentivando Limites ao crescimento e ao consumo (Mollison, 1988)  e a Partilha justa (Holmgren, 2002)

Princípios

  1. Observe e interaja
  2. Capte e armazene energia
  3. Obtenha rendimento
  4. Pratique a autorregulação e aceite conselhos (feedbacks)
  5. Use e valorize os serviços e recursos renováveis
  6. Não produza desperdícios
  7. Design partindo de padrões para chegar aos detalhes
  8. Integrar ao invés de segregar
  9. Use soluções pequenas e lentas
  10. Use e valorize a diversidade
  11. Use os limites e valorize o marginal
  12. Responda criativamente às mudanças

Agroecologia

É uma ciência que fornece os princípios ecológicos básicos para o estudo e tratamento de ecossistemas tanto produtivos quanto preservadores dos recursos naturais, e que sejam culturalmente sensíveis, socialmente justos e economicamente viáveis, proporcionando assim, um agroecossistema sustentável. A abordagem agroecológica da produção busca desenvolver agroecossistemas com uma dependência mínima de insumos agroquímicos e energéticos externos.

Princípios

  1. Conservar e ampliar a biodiversidade dos ecossistemas tendo em vista o estabelecimento de numerosas interações entre solo, plantas e animais, ampliando a auto-regulação do agroecossistema da propriedade.
  2. Assegurar as condições de vida do solo que permitam a manutenção de sua fertilidade e o desenvolvimento saudável das plantas, por meio de práticas como
    1. Cobertura permanente do solo (viva ou mülching)
    2. Adubação verde,
    3. Proteção contra os ventos,
    4. Práticas de conservação do solo (controle da erosão),
    5. Rotação de culturas,
    6. Consorciação de culturas,
    7. Cultivo em faixas, entre outras.
  3. Usar espécies ou variedades adaptadas às condições locais de solo e clima, minimizando exigências externas para um bom desenvolvimento da cultura.
  4. Assegurar uma produção sustentável das culturas sem utilizar insumos químicos que possam degradar o ambiente, fazendo uso da adubação orgânica, de produtos minerais pouco solúveis (fosfato de rocha, calcário, pó de rocha, etc) e de um manejo fitossanitário que integre as práticas culturais, mecânicas e biológicas para o controle de pragas e doenças.
  5. Diversificar as atividades econômicas da propriedade, buscando a integração entre elas para maximizar a utilização dos recursos endógenos e assim diminuir a aquisição de insumos externos à propriedade.
  6. Favorecer a auto-gestão da comunidade produtora respeitando sua cultura e estimulando sua dinâmica social.

Hoje existem no Brasil cursos de graduação em agroecologia em dez estados. A proposta curricular do curso caminha lado a lado com os parâmetros de desenvolvimento sustentável, formando um profissional capaz de encontrar melhores e viáveis soluções para aperfeiçoar o relacionamento do agricultor com a terra. Agroecologia também pode fazer parte da rotina das cidades: várias horta urbanas já contam com sistemas de agroecologia urbana.

Agricultura Sintrópica

Ernst Götsch, agricultor e pesquisador, veio da Suíça para o Brasil na década de 80 e se instalou no estado da Bahia. Ao começar o cultivo em território brasileiro, ele conseguiu elaborar uma nova forma de cultivo, que ficou conhecido como agricultura sintrópica, no qual propôs a conservação da mata natural de determinado espaço, associando-a à plantação de culturas comerciais.

A agricultura sintrópica não se utiliza de nada além do que o meio ambiente pode oferecer, inclusive, os agricultores recebem a orientação de não irrigar suas plantações, pois o equilíbrio será atingido de maneira natural.

O agricultor deve apenas estudar as características do solo para decidir o que poderá plantar ali. Em seguida, deve escolher uma grande diversidade de sementes e plantá-las de maneira com que, conforme as plantas crescerem, o ecossistema irá oferecer luz, umidade e nutrientes de acordo com as necessidades da planta ao lado. Esse equilíbrio é uma forma inteligente de aproveitamento do espaço e também faz da plantação uma atividade mais rentável.

Com o tempo o produtor deve apenas repor a camada superficial com folhas e galhos, principalmente com as podas, para que este material orgânico funcione como matéria para a formação do adubo orgânico e do húmus.

A agricultura sintrópica pode ser realizada em qualquer terreno e suas plantas apresentam poucas pragas ou doenças. O equilíbrio da natureza faz com que o solo esteja sempre bem nutrido e garante a qualidade do produto final. Além disso, a agricultura sintrópica mantém as estruturas da mata, permitindo o convívio da fauna e da flora sem que seja necessário desmatamento ou expulsão de espécies nativas.

E você quer por na prática esses conselhos mas não sabe como? Comece transformando seus resíduos orgânicos em adubo através da compostagem doméstica. Assim você terá um poderoso insumo para começar sua horta (mesmo dentro de apartamento). Quando menos esperar já vai estar fazendo refeições com suas colheitas!

Fontes: UFSC Permacultura, Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável de São Paulo, Ciclo Vivo