Brasileiros ganham prêmio de sustentabilidade na Alemanha

Fonte: Revista Galileu

Dois brasileiros estão entre os 25 vencedores da 8ª edição do Green Talents Award, prêmio realizado pelo Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha. A iniciativa tem como objetivo promover uma plataforma na qual cientistas de diferentes partes do mundo desenvolvam e compartilhem projetos de ciência e desenvolvimento sustentável.

Os mestrandos Marina Demaria Venâncio, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Hani Rocha El Bizri, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), foram selecionados entre 757 candidatos de 104 países. A dupla passará duas semanas na Alemanha participando do Fórum Internacional para Iniciativas de Alto Potencial em Desenvolvimento Sustentável, no qual poderão conhecer diversos laboratórios e profissionais especializados em ciência e sustentabilidade, além de participar de workshops e compartilharem ideias com os outros 23 participantes.

Durante o evento Venâncio e Bizri terão ainda a oportunidade de conhecer institutos alemães especializados em suas áreas de atuação, onde farão um estágio de três meses em 2017.

Agroecologia

Com apenas 23 anos, Marina Demaria Venâncio é uma das vencedoras mais jovens do Green Talents Awards. A estudante começou a se interessar por direito ambiental durante a graduação, ao longo da qual se dedicou a pesquisar biodiversidade, impactos ambientais e agricultura sustentável e mudanças climáticas, tema pelo qual se apaixonou e continuou a estudar.

Venâncio trabalha com um tema chamado de agroecologia, que trata da agricultura a partir da perspectiva de um ecossistema sustentável. Em sua pesquisa, ela analisa as políticas públicas feitas em relação a esse assunto. “No Brasil temos uma contradição muito grande. Apesar de boa parte da nossa agricultura ser familiar, há muito incentivo ao agronegócio”, afirmou a estudante à GALILEU. “É importante que quem desenvolve trabalhos sustentáveis tenha voz. Quando isso ocorre, o impacto é positivo e reflete no campo, na nossa alimentação e nossa relação com os alimentos.”

Em 2015, ela publicou o livro A Tutela Jurídica da Agroecologia Brasil – Repensando a Produção de Alimentos na Era de Riscos Globais, no qual analisou as medidas realizadas antes da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, de 2012, e os efeitos desta na criação de iniciativas estuduais e mudanças climáticas — tudo sob a perspectiva do direito.

“Estudar esses mecanismos nos ajuda a fazer políticas que não sejam só bonitas, mas eficazes. Meu foco é tentar identificar e elencar essas boas práticas e ver o que a nossa legislação está fazendo direito”, explicou.

Sustentabilidade na caça

Além do mestrado em Saúde e Produção Animal na UFRA, Hani Rocha El Bizri, de 29 anos, atua como pesquisador associado do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). Ele colabora com a organização desde a graduação em ciências biológicas, período em que teve contato com o estudo da biologia da conservação com foco na melhoria do bem-estar humano, área na qual decidiu se especializar.

A pesquisa de Bizri tem foco na subsistência da caça na Amazônia. Ao longo dos últimos anos, o mestrando e seus colegas do IDSM perceberam que a caça deixou de ser sustentável para as comunidades amazônicas. Como a maior parte delas vive isolada dos grandes centros, depende dos recursos da natureza para sobreviver. “Os moradores locais dependem dos recursos das matas e dos rios para se alimentar, produzir em pequena escala e vender”, explicou o pesquisador em entrevista à GALILEU. “Temos um problema de conservação dos animais e, principalmente, de segurança alimentar.”

Em parceria com um professor da Universidade Autônoma de Barcelona que atua no Peru, Bizri têm trabalhado em conjunto com as comunidades para coletar dados biológicos dos animais. “Em vez de descartar os resquícios dos animais caçados, os moradores nos fornecem os restantes que não vão comer para análise”, detalha. A partir desse material, o pesquisador tem feito uma revisão dos dados reprodutivos das espécies locais — as informações mais recentes são de 30 anos atrás! —, o que o ajuda a entender quais espécies podem ser abatidas em quais épocas, de forma que os animais não entrem em extinção e as comunidades não passem fome. “As pessoas precisam dessas informações”, afirma Bizri.

 

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