Fonte: GHG Protocol Brasil
Estimativas de algumas publicações especializadas dão conta de que perto de 60 milhões de hectares de terras dedicadas à pecuária no território brasileiro estão degradados. É um número aproximado, mas representa 1/3 das pastagens brasileiras e corresponde a uma área maior que o estado do Rio de Janeiro. Na verdade, não se conhece exatamente a quantidade de pastos nessa situação. Sabe-se, isto sim, que é preciso buscar saídas urgentes para reverter o quadro se quisermos reduzir significativamente as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) causadores das mudanças climáticas no planeta. As soluções existem, são palpáveis, mas precisam ser colocadas em prática por todas as partes: produtores, empresas e órgãos dos governos estaduais e federal.
Como o Brasil chegou a este ponto? Graças a muitas décadas de baixa produtividade no campo, falta de infraestrutura básica, problemas sociais diversos, muita especulação fundiária e a ocupação desordenada do território amazônico. O resultado de um crescimento não planejado é: hoje os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná e São Paulo são os que mais emitem GEE pela produção agropecuária. Só estes estados somam 70% das emissões do setor só em 2013.
As fontes de emissões mais importantes são a pecuária de corte e de leite, além do uso (muitas vezes com grande desperdício) de fertilizantes sintéticos à base de nitrogênio em praticamente todos esses estados. Por outro lado, a produção de soja e milho no Mato Grosso, o cultivo de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, a pecuária de leite em Minas Gerais e a produção de cana-de-açúcar em São Paulo também contribuem significativamente em regiões específicas.
É preciso ressaltar que durante os últimos 40 anos os focos de emissão de GEE no território brasileiro acompanharam a expansão agrícola nacional. Nos anos 1970, por exemplo, 60% das emissões de GEE do país estavam concentradas nas regiões Sul e Sudeste. Ambas eram dominadas pelas produções de carne e de leite no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e em São Paulo. Quando o Brasil expandiu sua fronteira agrícola cerca de 30% das emissões nacionais foram deslocadas para o Centro-Oeste, em especial o Mato Grosso. Atualmente esse estado é uma das principais fronteiras agrícolas do mundo. Concentra o maior rebanho bovino e a maior produção de soja do país, exportados principalmente para Europa e Ásia. Recentemente a pressão por novas áreas agrícolas além do Centro-Oeste levou a uma drástica mudança no padrão de emissões de GEE no Norte do país, principalmente no Pará, Acre e Rondônia. Nas décadas de 1970 os estados da Amazônia contribuíram com menos de 2% das emissões provenientes somente da agropecuária brasileira, sem contar com as emissões por desmatamento. Hoje participam com aproximadamente 9%.
Projeções oficiais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Outlook Fiesp – instrumento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo que diagnostica o agronegócio brasileiro – estimam um aumento do rebanho em 11% em 2023. Se assim for teremos algo em torno de 225 milhões de cabeças de gado, daqui oito anos. Caso não haja aumento na eficiência da produção bovina em áreas já ocupadas pela pecuária, a tendência é que o rebanho adicional seja alocado nos estados amazônicos. As consequências são óbvias: o desmatamento na região irá acentuar-se, assim como o crescimento das emissões nacionais de GEE, agravando ainda mais a contribuição do setor para as emissões brasileiras.
Uma das soluções para reverter esse preocupante panorama – talvez a mais premente – é tornar mais eficiente a produção de gado no país, sobretudo nos estados do Norte onde predomina a floresta amazônica. Produzir mais em áreas já abertas, evitar novas degradações do solo e da água, levar assistência técnica aos produtores promoverá um desenvolvimento com baixas emissões nas áreas de fronteira. Também é necessário evitar novos desmatamentos, eliminar a especulação fundiária e trabalhar duro na recuperação de pastagens já degradadas.
Se assim for o Brasil terá condições de reduzir pela metade suas emissões de GEE pela agropecuária nos próximos 15 anos, conforme mostram estudos do Imaflora e do Observatório do Clima. Em contrapartida, as pastagens manejadas com boas práticas agrícolas serão capazes de estocar uma alta quantidade de carbono no solo. Apenas essa ação já compensará as emissões de metano (que também compõe os GEE) do gado. Sabe-se que os bovinos eliminam esse gás frequentemente. O resultado será um balanço de emissões positivo por quilo de carne produzida.
Promover o zoneamento agrícola é outra medida capaz de otimizar a atividade agropecuária e reduzir significativamente as emissões. Esse mapeamento pormenorizado das atividades no campo permitirá ordenar o setor por aptidões, a fim de tornar a produção mais eficaz, incluindo a melhoria da logística de escoamento e o estímulo à concessão de créditos e financiamentos aos produtores. Por fim, tornar os órgãos estatais – Ibama, Incra e secretarias estaduais de Meio Ambiente – mais efetivos em suas ações de combate à especulação de terras, punindo os infratores, é essencial no processo. Sobre todas essas medidas já existem estudos detalhados e muito bem elaborados por pesquisadores e pelo Governo Federal. É preciso, então, aplicá-los o quanto antes.