Fonte: Ambiente Brasil
O material coletado por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para fazer análises antes de a lama da Samarco atingir o Rio Doce, em novembro de 2015, está sendo usado para comparar a situação ambiental daquele ecossistema atualmente. Foi constatado que, hoje, já há o dobro de ferro, quatro vezes mais alumínio e três vezes mais manganês.
No dia 5 de novembro de 2015, a barragem de Fundão da Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton, se rompeu. A enxurrada de rejeitos de mineração devastou o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), e desceu pelo Rio Doce até chegar ao mar, em Regência (ES). Um ano depois, ainda havia muitas dúvidas sobre o impacto desses rejeitos no meio ambiente e na vida das pessoas.
Os estudos da Ufes uniram informações que podem ser fonte de comparação para saber como era a região antes ou depois da lama. Os pesquisadores esperaram mais de um ano após o desastre para fazer essa comparação.
Lama da barragem que rompeu em MG afeta a vida na foz do Rio Doce no ES
Eles acreditam que, assim, o estudo fica mais correto, porque não estão analisando um momento determinado de quando o rio poderia estar mais cheio ou mais seco. Eles conseguiram estabelecer uma média das oito vezes em que coletaram material e analisaram, e agora podem afirmar com mais convicção como a lama está alterando a foz.
“É interessante que todas as campanhas que foram feitas pós-desastre quando comparadas com as campanhas que foram feitas antes do desastre, em 2013 e 2014, os resultados são sempre diferentes”, afirmou o geólogo Alex Bastos, professor e pesquisador da Ufes.
Comparando o antes e o depois da lama, a quantidade de metais depositados no fundo do mar da praia de Regência subiu muito. Há o dobro de ferro, quatro vezes mais alumínio e três vezes mais manganês. Isso pode ter interferido nos micro-organismos que estão na base da cadeia alimentar dos peixes. Depois da lama, a diversidade de espécies de zooplânctons ficou 40% menor.
“A gente está avaliando o ecossistema. Então isso pode com certeza ter desdobramentos para o resto da cadeia alimentar”, falou o geólogo.
Cerca de 30 pesquisadores, geólogos, físicos, biólogos, oceanógrafos e químicos fizeram as análises que estão neste relatório de 260 páginas. Ele vai ser entregue aos órgãos ambientais. São informações que podem direcionar as ações de recuperação e monitoramento da área afetada.
“E acrescentar algumas outras análises. Por exemplo, a análise nas praias, nos manguezais, nos peixes. Isso tudo também precisa ter o mínimo de diagnóstico a partir de agora”, disse Bastos.