Fonte: Jornal da USP
Uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, demonstrou que resquícios de madeira presentes nos resíduos urbanos podem ser utilizados como fonte de energia térmica.
Com o objetivo de avaliar o potencial energético escondido no lixo das cidades brasileiras, o engenheiro florestal Carlos Rogério Andrade analisou e deu tratamento térmico a amostras de madeira utilizada em obras, móveis e outros itens do dia a dia. O material foi coletado em uma usina de reciclagem instalada em Piracicaba, em São Paulo.
Entre os desafios enfrentados para o uso destes resíduos na forma em que se encontram, estão presença de contaminantes e a sua alta heterogeneidade, ou seja, objetos como pregos, parafusos, plásticos, dobradiças, entre outros, podem acompanhar os materiais coletados.
Para identificar existência de riscos ao ambiente e à saúde humana, os resíduos de madeira foram submetidos a análises específicas. “Foram verificadas a presença ou ausência de metais pesados, sulfetos, cianetos, fenóis, pesticidas e compostos nitrogenados”, explica ele. Os parâmetros encontrados ficaram abaixo do limite estipulado pelas normas técnicas, sendo que, em alguns casos, não foram sequer detectados.
“Foi testada também uma metodologia própria para quantificar a presença de contaminantes como terra, areia, cimento, entre outros, que porventura estivessem presentes nesses resíduos”, conta Andrade. Os resultados foram considerados satisfatórios para essa finalidade.
Além disso, ao aplicar o tratamento térmico, o estudo concluiu que “a torrefação pode contribuir para aumentar o valor energético destes resíduos, ou mesmo promover a limpeza destes materiais, sobretudo naqueles que receberam durante sua vida útil algum tratamento químico como tintas, vernizes e resinas”, destaca ele.
Crescimento sustentável
A tentativa de “minimizar os problemas relacionados ao lixo nas cidades” foi uma da motivações para se demonstrar a viabilidade energética das sobras de madeira, esclarece o pesquisador. Além disso, ao utilizar resíduos urbanos para produção de carvão, e não madeira obtida diretamente das árvores, o trabalho buscou uma forma de aliviar a pressão sobre as florestas.
Para Andrade, o caminho rumo a um crescimento sustentável “é longo, tortuoso e com muitas armadilhas”. No entanto, na sua visão, tem aumentado o número de iniciativas que buscam alcançar esse equilíbrio entre demandas sociais, o lado econômico e as preocupações quanto ao uso e à conservação do ambiente.
“Os resultados obtidos neste projeto demonstraram, por exemplo, ser possível, a partir de análises prévias, utilizarmos com segurança a madeira contida no lixo como uma fonte alternativa de energia térmica”, salienta, ao concluir que essa viabilidade caminha junto aos anseios de parte da sociedade, “que cada vez mais se mostra consciente e militante em relação às causas socioambientais enfrentadas pelo País”.
A tese de doutorado de Carlos Rogério Andrade, intitulada Tratamento térmico da madeira contida nos resíduos sólidos urbanos visando sua adequação para uso energético, foi orientada pelo professor José Otávio Brito, do Departamento de Ciências Florestais da Esalq, e pode ser acessada neste link.