Fonte: GHG Protocol
Embora os esforços globais estejam direcionados em conter o aquecimento da temperatura em no máximo 2°C neste século, é preciso estudar os riscos dos piores cenários. O quadro em um mundo de altas emissões de gases-estufa, com temperaturas subindo além de 4º C, é de ondas letais de calor, colapso na produção de alimentos, violenta escassez hídrica, migrações intensas, falência de Estados e até aumento do terrorismo. “Temos de entender que não podemos sobreviver nestas condições”, diz David King, um dos maiores cientistas de mudanças climáticas do Reino Unido e defensor da tese de que é preciso avaliar os piores riscos do aquecimento.
King, que é representante especial para mudança climática do Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido, conduziu um estudo de avaliação de riscos em cenários de altas emissões, que levariam a aumentos de temperatura superiores a 4°C neste século. “O desenvolvimento produziu bem-estar no século passado”, disse em palestra em Brasília. “Agora arriscamos perder todas estas conquistas, a menos que compreendamos o risco das altas emissões.”
“Mudança Climática – uma avaliação de risco” levou 1,5 ano para ser preparado e envolveu cientistas da China, Índia, Reino Unido e Estados Unidos. Sua premissa é analisar o que pode ocorrer se não houver compromisso político e inovação tecnológica, e as emissões continuarem crescentes.
King contou que a angústia de anos atrás, quando era assessor científico do governo britânico, o motivou a querer avaliar os riscos da mudança do clima. “Naqueles tempos, minha maior dor de cabeça era com coisas que tinham pouca probabilidade de acontecer mas poderiam ter grande impacto na sociedade britânica.”
Ele está ajudando cientistas brasileiros a fazer estudo semelhante, sob a coordenação do climatologista Carlos Nobre. No caso brasileiro, o foco é avaliar os riscos para produção de alimentos, saúde, biodiversidade e energia.
No clima atual, ondas de calor já causaram milhares de mortes na Europa e na Índia. “No futuro, as condições climáticas poderiam ultrapassar os limites potencialmente letais de estresse de calor, mesmo para quem estiver descansando à sombra”, diz o estudo. “Projeta-se que o número de pessoas expostas à escassez extrema de água pode dobrar, globalmente, até meados do século, devido ao crescimento populacional por si só”. Com temperaturas elevadas, o risco se agrava exponencialmente.
No Sul e Sudeste da Ásia, inundações que ocorrem a cada 30 anos podem ser 10 vezes mais frequentes. Secas extremas podem aumentar em 50% nos EUA e no sul da Ásia. Se o nível do mar subir 1 metro, a probabilidade do que é hoje uma inundação que ocorre uma vez a cada 100 anos é de ser 40 vezes mais provável em Xangai, e 200 vezes, em Nova York.
“Uma avaliação honesta dos riscos não é motivo para fatalismo”, diz o estudo. “Se combatermos a inércia com engenhosidade”, continua, “o objetivo de garantir um clima seguro no futuro não precisa estar fora do nosso alcance.”