Fonte: Programa Cidades Sustentáveis
Imagine o mundo como uma grande Paquetá. A ideia de cidades sem carros causa arrepios em apaixonados por máquinas e motores, bem como nos que temem o cerceamento de liberdades individuais. Mas restringir o uso de automóveis em núcleos urbanos tem sido uma tendência mundial. Prefeituras impõem taxas e rodízios para os motoristas e há projetos radicais como o de Oslo, que anunciou o banimento de todos os carros particulares das ruas do centro até 2019.
— As frotas mundiais crescem. Na Itália são 600 carros para cada mil habitantes. Na Alemanha são 550 por mil. Se não restringir, sai de controle — diz Paulo Cezar Ribeiro, professor de engenharia der transportes da Coppe/UFRJ. — Mas é preciso ter alternativas viáveis para que a população opte pelo transporte público.
Teóricos como o americano J.H. Crawford, autor de “Carfree Cities” defendem cidades inteiramente livres de automóveis, com um tipo de urbanização que permita fazer tudo a pé. O urbanista justifica sua tese dizendo que, ao se banir automóveis, a poluição e o desperdício de energia são reduzidos, ganha-se em silêncio e segurança e os espaços públicos são reconquistados, o que ajuda não só no lazer quanto no comércio local.
Apresentamos aqui projetos que tentam abrir espaço para pedestres e ciclistas. E vale notar que, apesar das restrições, nenhum acaba de vez com o uso do carro particular na cidade inteira.]
OSLO
O governo da capital norueguesa anunciou em outubro que deseja retirar os carros particulares do centro da cidade até 2019. Seria a primeira restrição completa desse tipo numa capital europeia.
O banimento dos carros é parte de um plano para cortar em 50% as emissões de gases com efeito estufa no período entre 1990 e 2020. Além disso, espera-se criar um ambiente melhor para pedestres, ciclistas e o comércio.
O programa quer proibir carros particulares do centro de Oslo, que tem um total de 650 mil habitantes (para comparar, Niterói tem em torno de 500 mil almas). A cada dia, aproximadamente 90 mil pessoas passam pelo centro da capital para trabalhar. A proibição permanente deve atingir em torno de 350 mil proprietários de automóveis na região. A medida abre exceções para deficientes físicos e entregas de pequenas cargas.
Na onda, as autoridades da cidade planejam retirar ações de empresas petrolíferas de seus fundos de pensão. Além disso, querem construir mais 60km de ciclovias nos próximos três anos, investir em novas linhas de ônibus e bondes, além de subsidiar a venda de bicicletas elétricas. Com isso, esperam que o tráfego de carros em toda a cidade seja reduzido em 20% até 2019 e 30% em 2030.
— Em 2030 ainda haverá gente dirigindo carros, mas estes deverão ser emissão zero — disse, em uma coletiva de imprensa, Lan Marie Nguyen Berg, vice-prefeita de Oslo e responsável pelo transporte e meio-ambiente da cidade.
HELSINQUE
O governo de Helsinque (630 mil habitantes) anunciou a criação de um revolucionário sistema de transporte. Algo tão inovador e abrangente que seus idealizadores garantem que “em uma década, ninguém terá qualquer razão para ser dono de um automóvel”.
Tal sistema interligará não apenas o transporte público convencional (isto é: bondes, metrô, trem, ônibus e barcas) como também carros e bicicletas compartilhados, táxis e até tickets de estacionamento para quem estacionar um carro particular nas aforas da cidade. Tudo isso com um clique.
A base de tudo será um aplicativo que planejará rotas e dirá quais transportes tomar e onde fazer as baldeações. O programa leva em consideração não apenas o menor tempo entre os pontos de partida e chegada, como também as preferências pessoais do cidadão e o clima (não indicando bicicletas compartilhadas em dias de chuva, por exemplo).
O pagamento será feito on-line — a ideia é ter mobilidade diretamente do smartphone. Será possível, por exemplo, pagar por quilômetro percorrido. Ou, se preferir, pagar uma tarifa que dará direito a um determinado número de quilômetros por mês. Os valores serão distribuídos aos diferentes operadores.
O carro já não é mais visto como símbolo de status pelos jovens finlandeses. Estes são mais abertos a modos flexíveis e baratos de transporte. A mudança total deverá vir aos poucos, quando as gerações mais velhas deixarem de dirigir.
MADRI
Cidades grandes como Madri (com 3,2 milhões de habitantes e 1,7 milhão de veículos) também tentam eliminar o automóvel. Desde 1º de janeiro do ano passado, quatro bairros no coração da capital da Espanha foram praticamente fechados ao tráfego de carros particulares — é permitida apenas a circulação de veículos dos moradores ou de quem tenha vaga fixa em um dos 13 estacionamentos oficiais da cidade. As medidas vêm sendo chamadas de “discriminação positiva” por seus criadores.
As motos têm circulação permitida das 7h às 22h, enquanto furgões podem entregar mercadorias das 10h às 13h. Quem ousa furar o cerco paga uma multa de € 90 (o controle é feito por meio de 22 câmeras).
Nas zonas mais congestionadas, os limites de velocidade foram reduzidos. Outra estratégia é que carros mais poluentes paguem mais caro nos parquímetros. Uma ideia para os próximos cinco anos é aumentar em 25% as zonas para pedestres na área central de Madri e multiplicar os corredores para ônibus.
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