Em 2023, o Brasil alcançou um triste marco: 33% de suas áreas naturais foram perdidas. Essa foi a constatação divulgada pelo MapBiomas, uma plataforma colaborativa que reúne dados sobre as transformações no uso do solo no Brasil, utilizando imagens de satélite e inteligência artificial para mapear e monitorar mudanças ambientais.
Criada em 2015, a ferramenta gratuita permite que qualquer pessoa tenha acesso a informações detalhadas sobre áreas desmatadas, florestas, agropecuária, corpos d’água, e outras categorias de uso do solo. Sua principal função é fornecer dados atualizados e confiáveis que possam subsidiar políticas públicas, pesquisas científicas, e ações de conservação ambiental, oferecendo uma visão clara sobre a dinâmica de mudança do território brasileiro ao longo do tempo.
Todos os anos, o MapBiomas lança atualizações que trazem novos dados e análises sobre as mudanças ambientais no Brasil. Essas atualizações são fundamentais para manter o monitoramento ambiental sempre em dia, permitindo uma compreensão mais precisa das tendências atuais.
No próximo tópico, vamos explorar as novidades das últimas atualizações e entender como esses dados podem ser utilizados em prol da preservação e desenvolvimento sustentável
Atualização Anual do MapBiomas
A rapidez e a extensão das mudanças no uso da terra elevam o risco climático, uma questão central do Seminário Anual do MapBiomas, que lançou sua Coleção 9 de mapas de cobertura e uso da terra em 21 de agosto de 2024, em Brasília, com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Além de atualizar os dados até 2023, a nova coleção trouxe inovações, como o primeiro mapeamento de recifes de coral no Brasil e uma análise sobre os ganhos e perdas de vegetação nativa em municípios a partir de 2008.
Dados alarmantes mostraram um salto preocupante desde 1985, quando a perda das áreas naturais totalizava 20% do território nacional. De 1985 a 2023, mais de 110 milhões de hectares foram convertidos para uso de atividade humana, representando uma perda das áreas naturais acumulada de 33%. Metade dessa devastação ocorreu na Amazônia, um bioma crucial para a regulação do clima no continente.
Perdas de Áreas Nativas por Biomas
Entenda como está a perda de áreas nativas por cada bioma comparando 1985 e 2023:
- Amazônia: O bioma perdeu 55 milhões de hectares de vegetação nativa, representando uma redução de 14%. Atualmente, 81% da Amazônia brasileira está coberta por florestas e vegetação nativa, um número que se aproxima do ponto de não retorno estimado pelos cientistas, entre 80% e 75%, quando não será mais possível a recuperação do bioma.
- Cerrado: O bioma perdeu 38 milhões de hectares de vegetação nativa, uma redução de 27%. O Cerrado tem fundamental importância para o fornecimento de água, seja pelas suas águas subterrâneas, seja pelas nascentes de diversos rios que contribuem para importantes bacias hidrográficas do país.
- Pampa: A perda foi 3,3 milhões de hectares, uma redução de 28%. O Pampa é rico em biodiversidade, com muitas espécies endêmicas, e é uma importante fonte de recursos genéticos.
- Pantanal: A maior perda foi na superfície de água, que caiu de 21% em 1985 para apenas 4% em 2023. Lembrando que o Pantanal é conhecido como o “reino das águas”, esse imenso reservatório de água doce é muito importante para o suprimento de água, a estabilização do clima e a conservação do solo. O Pantanal é a maior área úmida continental do planeta.
- Caatinga: O bioma perdeu 8,6 milhões de hectares, redução de 14% de sua vegetação nativa em relação a 1985. A caatinga é considerada patrimônio biológico de valor incalculável, pois ela só existe no Brasil. A vegetação tem como finalidade proteger o solo. Sem ela, o terreno sofre o processo de erosão, causado pelo vento e pela água que arrastam os sedimentos.
- Mata Atlântica: A perda foi de 3,7 milhões de hectares, 10% de redução. Em virtude de sua riqueza biológica e níveis de ameaça, a Mata Atlântica, ao lado de outras 33 regiões localizadas em diferentes partes do planeta, foi apontada como um dos hotspots mundiais, ou seja, uma das prioridades para a conservação de biodiversidade em todo o mundo.
Demarcação e Terras Indígenas
Outro ponto crítico é a situação das florestas públicas não destinadas, que cobrem 13% da Amazônia Legal e têm 92% de sua área preservada. Sem destinação formal, essas áreas estão mais vulneráveis ao desmatamento. Luís Oliveira, da equipe Amazônia do MapBiomas, alerta para a urgência de destinar essas florestas a regimes de proteção para evitar sua conversão para usos antrópicos, o que agravaria ainda mais a crise climática.
As Terras Indígenas continuam a ser as áreas mais protegidas do Brasil, com menos de 1% de perda de vegetação nativa entre 1985 e 2023, em contraste com 28% nas áreas privadas. Esse dado reforça o papel vital dessas terras na preservação ambiental.
Novidade: Mapeamento de Recifes de Coral
Por fim, o mapeamento inédito dos recifes de coral revela que o Brasil possui 20,4 mil hectares de corais, concentrados principalmente na costa leste. Com o aquecimento dos oceanos, esses habitats marinhos estão sob grave ameaça. César Diniz, da equipe de mapeamento da Zona Costeira do MapBiomas, ressalta que monitorar as condições dos corais é essencial, visto que eles sustentam 1/4 da vida marinha.
A Formação Florestal cobre atualmente 41% do país, mas foi o tipo de cobertura nativa que mais perdeu área de 1985 até o ano passado: menos 61 milhões de hectares, uma queda de 15% no período. Proporcionalmente, a Formação Savânica teve a maior perda, com redução de 26% e cerca de 38 milhões de hectares convertidos.
Cobertura Vegetal e Uso do Solo
Aqui estão os principais dados sobre a cobertura vegetal e o uso do solo no país, de 1985 a 2023:
- Cobertura vegetal atual: O Brasil ainda preserva 64,5% de seu território com vegetação nativa. No entanto, em 1985, esse percentual era de 76%.
- Expansão agropecuária: A área de pastagens cresceu 79% nesse período, com um acréscimo de 72,5 milhões de hectares. A área destinada à agricultura aumentou ainda mais, com um crescimento de 228%, equivalente a 42,4 milhões de hectares adicionais. Em 1985, 48% dos municípios brasileiros tinham a agropecuária como atividade predominante. Esse número subiu para 60% em 2023. Veja o avanço por bioma:
- Cerrado: A agropecuária cresceu de 28% para 47%.
- Pampa: A expansão agropecuária foi de 28% para 45%.
- Amazônia: A agropecuária, que cobria apenas 3% do bioma, agora ocupa 16%.
- Pantanal: O uso agropecuário saltou de 5% para 17%.
- Caatinga: Houve aumento de 28% para 38%.
- Mata Atlântica: O avanço foi menor, de 63% para 65%.
Preservação e Recuperação Ambiental
Esses dados evidenciam tanto os desafios quanto as oportunidades para a preservação e recuperação ambiental no Brasil. Com políticas públicas adequadas e iniciativas de conservação, o país pode buscar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental.
Esses dados são um forte alerta sobre o impacto contínuo das atividades humanas sobre os ecossistemas brasileiros e o risco climático que isso representa. A restauração e proteção das áreas naturais são essenciais para enfrentar os desafios climáticos e preservar a biodiversidade.