Fonte: Exame
Na última semana, o brasileiro Alexandre Paris, 33 anos, encerrou mais um capítulo de sua carreira de uma maneira inesperada.
Em frente a uma plateia de mais de 700 convidados no Centro de Convenções Santa Clara, no coração do Vale do Silício, ele apresentou ao lado de um colega indiano e outro espanhol o projeto de sua primeira startup, a ReBeam, concebida ao longo das dez semanas do programa de verão da Singularity University, uma das mais prestigiadas instituições de inovação em todo o mundo.
Paris foi o único brasileiro selecionado para a turma de 2016, embora o Brasil só perca para os Estados Unidos em número de pessoas que já participaram dos cursos oferecidos pela entidade, segundo levantamento da própria Singularity.
Desde 2009, quando os programas foram lançados, 224 brasileiros participaram dos programas. Estar nesse grupo seleto de profissionais, por si só, já é uma conquista: no total, mais de 3 mil pessoas se inscrevem no curso todo ano, mas só 80 são selecionadas após um processo rigoroso.
“Em 2016, foi a primeira vez que eles exigiram a submissão de uma ideia de projeto”, contou Paris, em entrevista ao Estado. “Eu e mais dois colegas tivemos uma ideia juntos, mas só eu fui selecionado.”
É impossível descrever o tipo de profissional que tem mais chances na Singularity. Na turma desse ano, conta Paris, havia de cartunistas à cientistas especializados em nanotecnologia.
Para o brasileiro, sua formação e experiência em energias renováveis, além de sua vivência em diversos países, pode ter lhe ajudado a compor um perfil atraente para os recrutadores.
Aventura
Nascido em São Bernardo do Campo, no interior de São Paulo, Paris viveu a maior parte de sua vida na cidade de Santo André. Ele se formou em gestão ambiental e fez mestrado em tecnologia para células de combustível no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) da Universidade de São Paulo (USP).
Depois de trabalhar como consultor na área de sustentabilidade, ele embarcou em sua primeira aventura no exterior: mudou-se para a Alemanha para estudar a fundo o setor de energia.
“Aprendi alemão em quatro meses”, diz o brasileiro. “E acabei conseguindo um estágio no ministério alemão para o meio ambiente.”
A experiência foi útil para o brasileiro dar o passo seguinte na carreira: desde março de 2011, Paris trabalha como técnico no escritório dedicado à estudar as mudanças climáticas na Organização das Nações Unidas (ONU).
“Assim que cheguei, ganhei um passaporte sem nacionalidade”, relembra Paris. “E me disseram que não estava ali para representar meu país. Me identifiquei na hora.”
Nos últimos cinco anos, o emprego permitiu que ele morasse em Bogotá, na Colômbia, e também em ilhas do Caribe. Ele ajudou a criar centros de colaboração regional, que oferecem auxílio a governos interessados em criar políticas para combater as mudanças climáticas.
“Foi muito intenso”, diz o brasileiro. “Era como criar uma startup do zero.”
É só o começo
Mal sabia ele que, durante o curso de verão da Singularity, ele redefiniria sua noção de “intenso”. Nas primeiras semanas do curso, ele assistia aulas no período entre 9h e 22h – era comum, no entanto, que algumas aulas se estendessem madrugada afora.
Todo dia Paris era apresentado a um tema novo, que poucos na sala estavam familiarizados: impressoras 3D, nanotecnologia e inteligência artificial, por exemplo, passaram a fazer parte das discussões com os colegas.
Depois de aprender sobre tecnologia, ele também ouviu especialistas sobre os principais problemas do mundo atual. “Ouvimos palestras sobre fome, educação e energia.”
O passo seguinte foi montar os grupos para desenvolver o projeto final do curso, que daria início a sua startup. Interessado em criar uma forma mais eficiente de produzir energia solar, Paris fundou junto ao indiano Gadhadar Reddy e ao espanhol Jordi Espargaro a startup ReBeam.
Eles queriam desenvolver uma tecnologia capaz de gerar energia a partir da luz solar mesmo quando o céu está nublado ou durante a madrugada. A ideia é ambiciosa: eles pretendem colocar refletores de micro-ondas em órbita no espaço.
Assim, eles poderão refletir a energia irradiada por fazendas de energia solar – grandes áreas ocupadas por placas fotovoltaicas na Terra – para locais do planeta que estiverem no escuro.
“Mandar qualquer coisa para o espaço é muito caro”, diz Paris, “mas nosso projeto quer colocar em órbita apenas um refletor feito de material muito leve.”
Entre os professores que orientaram a ReBeam na concepção do projeto está um dos engenheiros da Nasa que identificou a presença de água na Lua, em 2009.
Viabilidade
A ideia foi amplamente questionada na Singularity. Mas, depois de fundamentarem bem a proposta, a ReBeam foi escolhida como um dos cinco melhores projetos de 2016 – por isso, Paris e os colegas apresentaram a ideia na cerimônia de encerramento.
Paris pensava que a apresentação seria o ponto final de sua experiência na universidade mais inovadora do mundo, mas teve uma surpresa.
A ReBeam foi uma das dez empresas selecionadas pela Singularity para um novo programa de pré-aceleração de startups. Depois de duas semanas de férias, ele voltará ao campus da Nasa em 12 de setembro para uma nova temporada de dois meses.
“Tenho de voltar para a Alemanha em novembro, mas quero ver o quanto conseguirei avançar com a startup.”
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