Fonte: Jornal da USP
Atualmente, ao se pensar em saúde urbana, necessariamente se pensa em qualidade ambiental. Mas quais os fatores suscitam preocupações com a saúde de uma maneira mais ampla quando se leva em conta a relação “entre o indivíduo e o meio físico, social e político onde ele vive e se insere”? Essa é questão discutida em artigo publicado na Revista USP por Helena Ribeiro e Heliana Vargas. Elas também analisam as relações entre globalização e urbanização mundial; o caso peculiar da urbanização brasileira e seus efeitos na saúde e conflitos de toda ordem, relacionados a aglomerações de pessoas e veículos; e os efeitos, na sociedade urbanizada, do mundo virtual globalizado.
A combinação do aumento das populações com o desenvolvimento tecnológico provocou, no século 20, uma transformação nas doenças urbanas e deu margem a um novo conceito de saúde, pois “os determinantes sociais e ambientais das doenças agora estão relacionados a novas formas de adaptação do ambiente, como resultado da ação humana”, explicam as autoras. A partir disso, novas preocupações em relação à saúde apareceram, ligadas à qualidade da vida urbana, ao bem-estar no ambiente, à saúde física e mental, à segurança, à realização pessoal e profissional, e também a questões envolvendo trabalho e custo de vida.
A problemática da ocupação do solo urbano e o aumento de consumo, da urbanização acelerada e incontrolável, pela ausência de gestão e controle, também é colocada em pauta pelas autoras: “o crescimento populacional e acesso a serviços e oportunidades, por limitação de recursos naturais e econômicos, leva à degradação do ambiente natural e do construído e à deterioração das relações sociais”.
Para elas, a urbanização é positiva quando proporciona amplitude de recursos, desenvolvimento da economia local, por exemplo. Ao mesmo tempo, porém, a urbanização “se associa a maiores taxas de criminalidade, suicídio, emissões de dióxido de carbono e problemas mentais”. Assim, na valorização do bem-estar, é necessário melhorar as condições dos locais onde as pessoas vivem e priorizar um compartilhar consciente dessa necessidade entre os governos, os meios de comunicação, comunidades e setores de saúde.
“Globalização e urbanização caminham juntas”, explicam as autoras, quando se referem ao fato de a população urbana mundial crescer mais do que a população total mundial. E, como “o crescimento urbano tem sido mais expressivo nas megalópoles”, observa-se que as doenças urbanas são maiores quanto maior for o desenvolvimento econômico de um país. Ribeiro e Vargas apontam também a ocupação do solo em áreas inadequadas indevidas, “sob pontes e viadutos, de cortiços e de moradores de rua, com sérios problemas de saúde mental, doenças sexualmente transmissíveis e outras doenças infecciosas”.
São Paulo é acometido dos efeitos da chamada “imobilidade urbana”, com as aglomerações e congestionamentos de trânsito, responsáveis pelo tempo perdido que, além de ocasionarem estresse, afetam a qualidade do ar, provocando doenças e gastos públicos em saúde. Ao concluir, as autoras destacam a questão do uso abusivo das mídias virtuais nos centros urbanos, alertando para o hipnotismo, outra espécie de imobilidade, a que as pessoas se submetem, conectados ininterruptamente ao mundo inteiro, no trabalho, em casa, nas ruas, “implicando em alterações metabólicas nos seres humanos, ainda não devidamente estudadas”. Desse modo, exige-se o “repensar as formas de gestão e controle dos aglomerados urbanos”.
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