Fonte: ONUBR
Em São Paulo, o primeiro sábado de julho amanheceu sem sol, com frio e a famosa garoa. Mas para um grupo de cerca de 50 crianças refugiadas e brasileiras, isso pouco importava. Todas acordaram com uma missão especial: plantar mudas nativas da Mata Atlântica no Parque do Rodeio, zona leste da capital paulista.
Enquanto os funcionários da prefeitura preparavam o terreno e as plantas, meninos e meninas da República Democrática do Congo, Síria, Jordânia, Líbano e Angola desciam do ônibus felizes com a oportunidade de poder realizar o primeiro plantio de árvores de suas vidas, em solo brasileiro.
“Plantar árvores é uma atitude especial, ainda mais acompanhando crianças e jovens. Toda e qualquer guerra não faz bem e ter um parque como este, no meio da cidade, com muito verde, traz uma sensação de paz e tranquilidade. Isso nos faz olhar para o futuro, não para o passado”, disse a síria Salsabil, mãe de uma bebê brasileira que nasceu há dois meses.
As crianças, de idades e contextos variados, tinham em comum a disposição para aprender sobre a mistura da terra com a compostagem para fazer as plantas “crescerem fortes para chegar lá em cima, ficarem bem grandes para nos proteger do sol e da chuva, com ajuda das minhocas e dos insetos para dar flores e frutos”, conforme descreveu Mohamed, de dez anos, mostrando que aprendeu bem a lição.
O ator e ambientalista Victor Fasano esteve presente e foi quem explicou às crianças as formas de plantio, a origem das árvores e a importância delas para a conservação dos recursos naturais e da qualidade de vida das pessoas nas cidades.
“O que está acontecendo no mundo com as questões relacionadas aos refugiados, em especial às crianças, é de uma desumanidade gigantesca, insustentável e inaceitável”, afirmou o ator, que ressaltou a importância do simbolismo que o plantio das árvores tem.
A diretora da organização não governamental I Know My Rights (IKMR), Vivianne Reis, acrescentou que a maior necessidade das crianças refugiadas é ter seus direitos assegurados para um futuro promissor. “O que elas precisam é de uma oportunidade, uma chance para poder se se desenvolver e crescer em segurança. Precisam sentir que não perderam o seu lugar neste mundo e que o futuro da humanidade conta com cada uma delas”, disse.
De acordo com o mais recente relatório da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) — “Tendências Globais do Deslocamento Forçado em 2016” —, há no mundo todo 22,5 milhões de pessoas refugiadas. Mais da metade desse contingente (51%) é de crianças. No ano passado, 75 mil menores desacompanhados ou separados de seus responsáveis solicitaram refúgio em 70 países.
No Brasil, o organismo internacional financia um projeto de educação complementar que é desenvolvido pela IKMR. A iniciativa oferece atendimento em três modalidades: promoção da integração na escola, plantão de apoio escolar e acompanhamento das dificuldades de aprendizagem das crianças. Atualmente, o programa dá assistência a 50 jovens refugiados e solicitantes de refúgio com idade entre seis e 12 anos.
Além das intervenções diretas, a parceria entre o ACNUR e a ONG tem promovido o fortalecimento dos vínculos entre familiares e educadores, estimulando ainda a articulação entre os centros de ensino que são frequentados por refugiados na capital paulista.