Fonte: Programa Cidades Sustentáveisis
Perda da floresta dentro de UCs em relação ao desmate total da Amazônia Legal dobrou entre 2012 a 2015, passando de 6% para 12%. Nos 50 principais locais, corte chegou a 229,9 mil hectares, diz Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
Criadas com o objetivo de proteger a floresta, as Unidades de Conservação (UCs) da Amazônia estão sob ataque intenso, falhando em seu principal papel. Levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) obtido com exclusividade pelo Estado revela que, desde 2012, as taxas de desmatamento em UCs vêm aumentando, assim como sua participação no desmatamento total do bioma. Os valores referentes a 2015 já superaram os de 2008 – ano que marcou o início do declínio da taxa total de desmatamento na Amazônia, que atingiu o seu menor valor em 2012. A participação da perda da floresta dentro de UCs em relação ao desmatamento total da Amazônia Legal dobrou no período, pulando de 6% em 2008 para 12% em 2015.
Os pesquisadores listaram as 50 UCs mais desmatadas de 2012 a 2015. Juntas, elas perderam 229,9 mil hectares de floresta – 97% da área desmatada em todas as unidades de conservação da Amazônia no período. As 10 primeiras respondem por 79% do total. Essa concentração, segundo eles, se dá porque todas elas estão na área de expansão da fronteira agropecuária e sob influência de projetos de infraestrutura, como rodovias, hidrovias, portos e hidrelétricas. Mas também porque tem ocorrido uma redução de recursos e de pessoal de fiscalização, principalmente por parte do governo federal, além de movimentos para reduzir o grau de proteção ou a área de algumas unidades.
Entre os locais mais sensíveis está o entorno da BR-163 (Cuiabá-Santarém), que esteve em destaque nas últimas semanas com caminhões de soja atolados nos trechos sem asfalto. Se por um lado o agronegócio se queixa da falta de asfalto, foi em parte por causa do asfaltamento que o desmatamento explodiu em seu entorno.
Fica ali, por exemplo, a Floresta Nacional de Jamanxim (PA), a UC federal mais desmatada na lista, atrás somente de duas unidades estaduais, uma também no Pará e outra em Rondônia – os dois Estados líderes em desmatamento nas florestas protegidas, 49,8% e 38,9%, respectivamente, de acordo com o levantamento. O estudo usou dados do Prodes, o sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que fornece a taxa oficial de desmatamento da Amazônia.
Jamanxim perdeu mais de 9,2 mil hectares de floresta em 2015, área 87% maior do que em 2014. Apesar de ser uma floresta nacional (flona), um tipo de categoria de unidade de conservação que não permite ocupação de povos não tradicionais, a floresta sofre com ocupações especulativas e alta concentração fundiária. Apesar de não haver terras registradas formalmente em cartório dentro da flona, o desmatamento avança justamente para descaracterizar a UC e assim, quem sabe, conseguir com que ela seja reduzida. Esses ocupantes vinham tentando sua revogação no Legislativo e no Judiciário desde que ela foi criada, em 2006.