O fogo atingiu uma escala sem precedentes, nunca antes observada em nenhum outro bioma florestal do mundo nos últimos 20 anos. “Eventos como esses são vistos como prenúncios de um futuro que está rapidamente se tornando presente”, alertam pesquisadores.
Foram quatro meses de incêndios florestais que devastaram mais de 10 milhões de hectares de vegetação, deixaram 28 vítimas humanas fatais e mataram quase 500 milhões de animais. O fogo que começou a se alastrar em setembro de 2019 e provocou destruição até fevereiro de 2020 foi o pior já enfrentado pelos australianos nas últimas décadas. A região de New South Wales e Victoria, no sudoeste do país, foram as mais afetadas pelos incêndios. Segundo um levantamento realizado por pesquisadores do Hawkesbury Institute for the Environment da Western Sydney University, cerca de 20% de áreas de florestas foi destruída pelas chamas, aproximadamente 5,8 milhões de hectares. Da última vez que houve incêndios dessas proporções no país, a perda florestal foi de “somente” 2%.
“Analisamos os principais biomas florestais da Austrália, Ásia, África, Oceania e Américas do Norte e do Sul para determinar a extensão das áreas anuais queimadas por incêndios florestais”, revelou Matthias Boer, principal autor do estudo. “As florestas na Austrália e em outros continentes queimaram historicamente até aproximadamente 5% da área florestal a cada ano, com percentuais mais altos de 8 a 9% registrados apenas em pequenas regiões florestais da África e Ásia. No entanto, em 2019/2020 na Austrália, essa área queimada saltou para 21% em uma única temporada”.
Para Boer, o fogo em seu país atingiu uma escala sem precedentes, nunca antes observada em nenhum outro bioma florestal nos últimos 20 anos.
Em um artigo publicado na Nature Climate Change, especialistas analisaram as causas e os impactos da tragédia na Austrália. “Os incêndios ocorreram no início de um ano em que houve um aumento do envolvimento do público com a ciência e as políticas climáticas, bem como uma maior cobertura da mídia. Eventos como esses são vistos como prenúncios de um futuro que está rapidamente se tornando presente”, alertaram os autores.
Há 13 anos, cientistas já tinham previsto o agravamento dos incêndios florestais na Austrália. Em 2007, representantes do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPCC) destacaram o impacto do aquecimento global relacionado ao fogo, ressaltando o risco de incêndios naquele país. Naquela época, o primeiro-ministro, Scott Morrison, já negava os efeitos das alterações do clima e era contra políticas de redução de gases de efeito estufa.
Foi justamente por esta razão que Morrison foi tão criticado pelos australianos, que exigiram mais recursos para os serviços de combate a incêndios e ações urgentes de combate à crise climática, começando com a manutenção de combustíveis fósseis no solo.
Secas históricas
Um dos impactos mais conhecidos das mudanças climáticas são os eventos climáticos extremos. O sudoeste da Austrália teve um dos períodos mais secos de sua história, de janeiro a agosto de 2019. A seca, combinada a um inverno com recordes de calor, proporcionou o cenário ideal para que as chamas se alastrassem pela vegetação. Ou seja, o que vemos agora são alguns dos efeitos práticos da crise climática global. É isso mesmo, o futuro já começou!
As mudanças climáticas na Austrália significam que os incêndios florestais começam mais cedo, duram mais e são mais intensos.
Fonte: Envolverde