Fonte: Jornal da USP
O óleo de soja é a matéria-prima mais utilizada para produção de biodiesel no Brasil, com participação de 75% em média entre 2014 e 2016. Para tornar a produção mais sustentável, pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba, verificou as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) durante o cultivo da soja, a extração do óleo, a produção e a distribuição do combustível. O estudo coordenado pelo professor Carlos Eduardo Cerri mostra que integrar a extração do óleo e a fabricação do biodiesel na mesma unidade industrial reduz as emissões na etapa de produção.
O trabalho também recomenda o uso responsável de insumos durante o cultivo da soja, pois fertilizantes e corretivos respondem pela maior parte das emissões da fase agrícola. A avaliação das emissões foi dividida em quatro etapas: agrícola, extração, produção de biodiesel e distribuição. “Neste estudo, foram consideradas duas configurações de produção do biocombustível, o sistema de produção não integrado e o integrado”, explica o professor. “No sistema não integrado, as etapas de extração do óleo de soja e produção do biocombustível ocorrem em unidades industriais diferentes e no sistema integrado, as etapas de extração e produção ocorrem na mesma unidade industrial.”
Para obter os dados da etapa agrícola, o estudo reuniu informações sobre a produção de soja em 114 fazendas no Mato Grosso, entre as safras de 2007/2008 e 2009/2010. “Foram consideradas emissões diretas da produção de soja, que incluem a aplicação de fertilizantes nitrogenados, calcário, insumos orgânicos e defensivos agrícolas, além da produção de sementes e decomposição de resíduos da colheita, e emissões indiretas da aquisição de insumos agrícolas”, observa o professor. “Na etapa de extração, além das emissões diretas provenientes da combustão em geradores, caldeiras e silos, foram consideradas emissões indiretas originadas pela produção e transporte dos insumos industriais e combustíveis e pela aquisição de energia elétrica para armazenamento e processamento dos grãos.”
Na etapa de produção, foram contabilizadas emissões diretas de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes da combustão estacionária em geradores e caldeiras e emissões indiretas da produção e transporte de insumos industriais e combustíveis e pelo consumo de eletricidade nas fábricas. “Na distribuição, foram levadas em conta emissões diretas da combustão em fontes móveis do transporte rodoviário e marítimo e emissões indiretas da produção e transporte de combustíveis”, afirma Cerri. “A pesquisa considerou quatro rotas de distribuição do biocombustível produzido no Mato Grosso, para Paulínia (interior de São Paulo), visando ao mercado interno, Santos, Paranaguá (Paraná) e de Santos à Europa, para o mercado externo.”
Pegada de carbono
As emissões de GEE da produção de biodiesel de soja B100 (100% de biodiesel) considerando o mercado interno totalizaram 980 de equivalente de dióxido de carbono (CO2) por quilo de biodiesel (gCO2e kg-1B100) e 615 gCO2e kg-1B100 para sistemas não integrados e integrados, respectivamente. “A medida do equivalente de CO2 representa a ‘pegada de carbono’ do biodiesel, ou seja, a presença dos três principais gases do efeito estufa, que são o CO2, o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O)”, relata o professor. “No sistema não integrado, a etapa agrícola representou 32% das emissões, a extração 6%, a produção 52% e a distribuição 10%. No sistema integrado, a etapa agrícola foi responsável pela maior parte das emissões, com 51%, a extração representou 7%, a produção 27% e a distribuição 15%.”
“A medida gCO2e kg-1B100 representa o equivalente de dióxido de carbono (CO2) por quilo de biodiesel. Trata-se da ‘pegada de carbono’ do biodiesel, ou seja, a presença dos três principais gases do efeito estufa: o CO2, o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O)”, relata o professor. As emissões de Gases de Efeito Estufa da produção de biodiesel de soja B100 (100% de biodiesel), considerando o mercado interno, totalizaram 980 gCO2e kg-1B100 para sistemas não integrados e 615 gCO2e kg-1B100 para sistemas integrados. “No sistema não integrado, a etapa agrícola representou 32% das emissões; a extração, 6%; a produção, 52%; e a distribuição, 10%. No sistema integrado, a etapa agrícola foi responsável pela maior parte das emissões, com 51%; a extração representou 7%, a produção, 27%; e a distribuição, 15%.”
Considerando o mercado externo, as emissões da produção de biodiesel de soja de sistemas não integrados totalizaram 1.107 gCO2e kg-1B100 e de sistemas integrados, 755 gCO2e kg-1B100. “No sistema não integrado, as etapas agrícola, extração, produção e distribuição apresentaram participação relativa de 29%, 5%, 46% e 20%, respectivamente”, aponta Cerri. “E para o sistema integrado as respectivas participações relativas foram de 42%, 7%, 23% e 28%.”
Segundo o professor, a pesquisa contribui para uma produção de biodiesel mais sustentável. “O estudo faz um ‘alerta’ de quais são as principais fontes emissoras de gases de efeito estufa e em que etapa do processo elas ocorrem”, destaca. “Assim, este alerta estende-se desde o produtor rural até a indústria. Ao produtor, cabe gerenciar com responsabilidade o uso de insumos durante o cultivo da soja, como, por exemplo, o uso fertilizantes e corretivos, responsáveis pela maior fatia das emissões da fase agrícola.”
Em relação à indústria, os avanços deveriam ser direcionados para a construção de plantas integradas, as quais extraem o óleo dos grãos da soja e produzem o biodiesel em um mesmo local. “As conclusões desse estudo mostraram claramente que plantas integradas conseguem utilizar os recursos de produção, como energia elétrica e térmica e combustível, de forma mais racional, tornando o processo mais eficiente e com menos emissões de gases de efeito estufa”, ressalta Cerri. “Assim, do campo à industria, há muito a avançar, e isso somente será possível com investimentos em pesquisa e inovação, nestas áreas que são prioritárias ao Brasil.”
As conclusões da pesquisa são detalhadas em artigo publicado na revista PLOS ONE em maio. Os dados sobre a produção de biodiesel no Brasil foram obtidos junto à Agência Nacional de Petróleo (ANP) e à Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). A pesquisa foi liderada por professores e pesquisadores do Cena e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, com participação de profissionais ligados à DeltaCO2 Sustentabilidade Ambiental e colaboração da Abiove, da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) e de companhias associadas.