Não estamos fazendo, nem de longe, o suficiente para limitar as mudanças do clima. As emissões de gases de efeito estufa estão aumentando quando deveriam estar caindo. Os países precisam agir urgentemente ou enfrentaremos um futuro de elevação no nível do mar, eventos climáticos extremos e aumento da miséria humana.
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões (Emission Gap Report, em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU) deste ano, divulgado em Genebra, no dia 26 de novembro, aponta que mesmo que todos os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris sejam implementados, seguiríamos caminhando para um aumento de temperatura de 3,2°C. Para entrar na trajetória de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, precisamos reduzir pela metade as emissões globais até 2030. Isso significa que as emissões precisam cair 7,6% ao ano entre 2020 e 2030, se distribuirmos de maneira uniforme. Para a meta de 2°C, o número é de 2,7% a cada ano.
Cientistas, a ONU e ativistas têm divulgado variações desta mensagem há mais tempo do que gostaríamos de lembrar, e suas vozes têm se tornado cada vez mais fortes. Ainda assim, o mundo não acatou suas advertências. Procrastinamos, pensando que poderíamos compensar mais tarde. Mas, o prazo para tomar medidas sérias está chegando ao fim.
O tamanho desses cortes anuais é chocante. Também é sem precedentes. A maior redução anual de emissões registrada por um país é de pouco mais de 2% ao ano, caso do Reino Unido, entre 1990 e 2018. A tarefa pode parecer impossível, principalmente para limitar o aumento da temperatura em 1,5 °C. Mas temos de tentar, e devemos começar agora. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas nos alertou que ultrapassar 1,5°C aumentará a frequência e a intensidade de eventos climáticos catastróficos, como as ondas de calor e tempestades testemunhadas em todo o mundo nos últimos anos. Os níveis do mar subirão. Quase todos os recifes de coral morrerão. O planeta terá sérios problemas.
As conclusões do relatório chegam em um momento oportuno, pois antecedem a Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP25), realizada em Madri, Espanha, presidida pelo Chile, onde as partes revisarão suas promessas de ação climática. Os países não podem esperar até o fim de 2020, quando precisaremos de novos compromissos climáticos, para intensificar suas ações. Eles e todas as cidades, regiões, empresas e indivíduos precisam agir agora. Precisamos de vitórias rápidas para reduzir as emissões o máximo possível em 2020, e depois de compromissos e ações nacionais mais fortes para iniciar as principais transformações em economias e sociedades necessárias para recuperarmos os anos em que procrastinamos.
Ainda é possível atingir a meta de 1,5 °C, mas não devemos subestimar o tamanho desta tarefa. Para fecharmos a lacuna de ação, as nações precisam aumentar em cinco vezes a ambição de seus compromissos quando os revisarem. Elas devem, então, implementar imediatamente políticas, estratégias e ações para cumprir estes compromissos.
O cenário global nunca foi tão propício para conseguirmos tomar as medidas necessárias. Há uma compreensão crescente dos múltiplos benefícios da ação climática, como um ar puro, empregos verdes ou impulso para o alcance de muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Existem muitos exemplos de esforços ambiciosos de governos, cidades, empresas e investidores. A pressão está crescendo na forma de poderosos movimentos de protesto. A mudança do clima está se tornando um problema maior nas urnas.
Precisamos aproveitar esse ambiente para oferecer as transformações radicais e as soluções inteligentes de que precisamos agora – ou enfrentaremos as consequências de um planeta radicalmente alterado pelas mudanças climáticas.
Fonte: Estadão