O que autoestima tem a ver com trabalho? Tudo!
E não há resposta mais sincera e direta para descrever o impacto de se sentir pertencente nos espaços que ocupamos profissionalmente.
Crescer em uma carreira já é desafiador por si só, mas quando você é uma mulher negra, a falta de representatividade pode transformar cada degrau em uma luta solitária e silenciosa.
Hoje, quero compartilhar as histórias de duas mulheres incríveis da Eccaplan que exemplificam como o empoderamento e o protagonismo de mulheres negras são capazes de transformar não apenas vidas, mas também as estruturas que insistem em nos invisibilizar.
Karla: Resiliência e Transformação na Eccaplan
Karla é uma mulher negra LGBT que nasceu em Mato Grosso e teve suporte dos pais durante a infância.
Em 2008, perdeu a mãe, sua maior referência de força e determinação, e precisou aprender, muito cedo, a se reinventar.
Em 2011, mudou-se para Guarulhos junto com sua esposa em busca de um recomeço. Foi ali que iniciou sua jornada na reciclagem, um setor que, para muitos, pode parecer marginalizado, mas que ela transformou em potência e oportunidade.
Começou em uma cooperativa na parte operacional onde aprendeu sobre resíduos e pessoas. Com isto, foi convidada a cuidar de 60 mulheres nesta empresa, aprendendo a prática de liderança no dia a dia.
Anos depois, dirigiu caminhões, foi contratada como motorista e, com muito esforço e dedicação, tornou-se coordenadora de operações e projetos.
Conheceu o Fernando da Eccaplan em um evento e foi convidada a cuidar da criação da área de resíduos da empresa. Trabalhou também como motorista e teve um suporte enorme da sua esposa Tatiane Alves, que trabalhou durante um tempo como sua ajudante. O que demonstra a importância enorme do apoio das nossas redes em nossa construção de carreira e vida pessoal!
E, hoje, Karla é Gestora Operacional na Eccaplan, empresa reconhecida por seu impacto sustentável e social.
Sua trajetória é marcada por nunca desistir: sem formação acadêmica formal à época, Karla desafiou as estatísticas e, agora, cursa Gestão Ambiental.
“A Eccaplan me proporcionou ter uma vida melhor e proporcionar uma vida melhor para minha família. Pude formar minha família, comprar minha casa, meu carro… Hoje, meus filhos e netos podem desfrutar de potencialidades que eu não tive na minha infância e isto é indescritível”
Ela não apenas venceu as barreiras impostas pelo racismo estrutural, mas também pavimentou caminhos para outras mulheres negras, provando que representatividade e apoio transformam vidas.
“A Eccaplan foi um divisor de águas. Encontrar um espaço de escuta, onde minhas limitações e potencialidades foram compreendidas, foi fundamental. Não somos apenas nossas dificuldades; somos o que podemos ser quando alguém acredita em nós”, conta Karla, emocionada.
Jackeline: Superando Barreiras e Construindo Pontes
Jackeline é nordestina, mãe, negra, filha de mãe preta com ascendência indígena e pai branco. Natural de Recife, chegou a São Paulo há 10 anos com o sonho de construir uma vida diferente para sua mãe, sua irmã e para si mesma.
E nada mudou em relação a isso. Jack ainda busca todos os dias proporcionar uma vida melhor para sua família, que hoje cresceu! Sua filha e marido também são motivações diárias para buscar uma vida melhor.
Jackeline faz parte da primeira geração de pessoas que conseguiram ingressar na faculdade na sua família.
Sua trajetória profissional em São Paulo começou com muitas dificuldades. Além do trabalho formal em empresas conectadas com sua área de formação, precisava complementar sua renda nos fins de semana para se manter financeiramente.
E mesmo quando se via em empresas onde poderia se desenvolver mais, ainda assim, era colocada para fazer atividades afastadas da sua área de atuação e, muitas das vezes, ganhando menos do que deveria. O que mostra muito de como o racismo ainda opera nas estruturas corporativas até os dias de hoje.
E, em meio a jornadas duplas e noites sem descanso, concluiu sua graduação em Biologia e um mestrado na USP em Ambiente, Saúde e Sustentabilidade.
Mesmo com um currículo sólido, enfrentou a dura realidade de ser uma mulher negra em um mercado que ainda valoriza mais a aparência do que a competência. “Eu precisava provar que era muito melhor que todo mundo para ser apenas vista”, relembra Jackeline.
Jackeline também acrescenta que por mais que tenha tido suas dificuldades, ainda assim, só conseguiu terminar seu mestrado e ter uma boa performance no trabalho por ter tido a oportunidade de ter uma rede de apoio próxima como sua mãe, seu marido e seus sogros – o que não acontece na realidade da maioria das mães negras no Brasil.
E, na Eccaplan, encontrou o que precisava para se desenvolver e também ser reconhecida por toda a sua experiência de mercado.
“É mais do que necessário que as empresas enxerguem as pessoas, suas limitações e suas potências. E que isto seja o direcionador para programas de desenvolvimento. Somente entendendo que as pessoas saem de lugares e vivências diferentes e que isto não é uma coisa ruim, é que podemos elevar o padrão de carreira de pessoas que vem de grupos minorizados.” – Jackeline completa.
Hoje, Jackeline é Gerente de Sucesso do Cliente e Consultora de Resíduos na Eccaplan.
Ela encontrou na empresa um espaço que reconheceu seu potencial e ofereceu suporte para seu desenvolvimento, como o custeio parcial de um curso de inglês, algo que sempre foi um obstáculo em sua trajetória. “O espaço de escuta fez toda a diferença. Não é apenas sobre adaptar a cultura do trabalho, mas sobre criar uma cultura que permita que as pessoas floresçam”, destaca.
O Papel do Empoderamento Negro
As histórias de Karla e Jackeline nos mostram que o empoderamento não é apenas sobre superação individual, mas também sobre transformar sistemas.
Quando uma empresa se dispõe a olhar para a realidade de suas pessoas, a entender suas limitações e adaptar processos, ela não apenas atrai talentos, mas também cria um ambiente onde esses talentos podem prosperar.
Precisamos desenvolver processos que enxerguem as pessoas como um todo, que compreendam suas vivências e respeitem suas interseccionalidades. Isso significa mais do que inclusão simbólica.
É sobre criar planos de desenvolvimento individuais, rever avaliações de desempenho enviesadas e oferecer suporte real para que essas pessoas possam atingir seu pleno potencial.
As vivências de Karla e Jackeline são um lembrete poderoso de que a representatividade importa. Ver alguém como você em um cargo de liderança ou em um espaço de decisão pode ser a diferença entre persistir ou desistir.
Mais do que isso, elas provam que o protagonismo feminino e negro não é apenas necessário, mas urgente.
Além do Reconhecimento: Caminhos para o Futuro
O empoderamento negro no mercado de trabalho vai além de reconhecer talentos individuais.
Ele exige mudanças estruturais, como criar políticas de contratação que considerem a realidade de pessoas pretas e periféricas, investir em treinamentos e redes de apoio, e fomentar a diversidade em todos os níveis hierárquicos.
“Minha jornada não foi fácil, mas cada obstáculo me tornou mais forte”, diz Karla. “Hoje, quero ser referência para outras mulheres negras, mostrando que é possível alcançar nossos sonhos sem abrir mão de quem somos.”
Jackeline ecoa o mesmo sentimento: “Eu quero que minha filha cresça em um mundo onde não precise ser dez vezes melhor para ser vista. E isso começa com as mudanças que estamos construindo agora.”
Conclusão: O Poder da Ação Coletiva
Empoderar pessoas negras não é apenas uma questão de justiça social; é também uma estratégia inteligente para construir empresas mais fortes, sustentáveis e inovadoras.
Quando criamos espaços onde todas as pessoas se sentem vistas, ouvidas e valorizadas, não só transformamos vidas, mas também moldamos um futuro mais justo e próspero.
As histórias de Karla, Jackeline e tantas outras pessoas negras que resistem e persistem nos inspiram a lutar por um mundo onde o trabalho seja, de fato, um lugar de pertencimento e autoestima.
Bom dia, e que a transformação comece por nós. 🌟
Por Tamara Braga, engenheira química, professora e especialista em sustentabilidade, diversidade e inclusão.