Será mesmo que a Apple reduzirá o impacto ambiental ao retirar carregadores e fones do iPhone 12?

Apple anunciou o aguardado iPhone 12, nova versão do smartphone da marca. Apresentado em quatro versões, ele traz dois destaques: são os primeiros modelos a trazer conectividade 5G e, o ponto mais polêmico: nenhum deles trará um carregador de bateria – apenas o cabo USB-C Lightining (e nem o tradicional fone de ouvido).

Entenda as medidas

A ausência do acessório já vinha sendo comentada há algum tempo, logo, sua confirmação não gerou tanta surpresa. E os motivos apresentados pela Apple para que o iPhone não traga um carregador são:

  • Existem mais de 2 bilhões de adaptadores de energia da Apple no mundo, sem contar os bilhões de adaptadores de terceiros;
  • Os usuários da marca já têm mais de 700 milhões de fones de ouvido no Lightning e muitos clientes mudaram para uma experiência sem fio;
  • Remover esses acessórios das caixas do iPhone reduziria as emissões de carbono e evita a mineração e o uso de materiais preciosos;
  • Com menos itens incluídos, a embalagem do iPhone é menor. Logo, a Apple pode colocar até 70% mais produtos em um compartimento de transporte. Com isso, seriam cortadas mais de 2 milhões de toneladas métricas de carbono por ano. Segundo números da empresa, é como remover 450 mil carros das estradas anualmente.

Todos esses números foram divulgados por Lisa Jackson, vice-presidente de Meio-Ambiente, Políticas e Iniciativas Sociais da Apple. E, sejamos justos, é uma ação louvável da empresa na direção de diminuir o impacto ambiental causado por seus produtos. Principalmente, quando sabemos que o mundo gerou 53,6 milhões de toneladas métricas de lixo eletrônico em 2019. Esses números foram divulgados no Global E-Waste Monitor 2020, relatório de co-autoria do cientista Ruediger Kuehr e patrocinado pela Universidade das Nações Unidas, com a colaboração de organizações como a União Internacional de Telecomunicações. E, segundo o documento, esse número continuará a aumentar para 74 milhões de toneladas métricas até 2030, quase o dobro do valor registrado em 2014.

Entenda o que é neutralização de carbono vendo o vídeo abaixo:

Mas será que as tais medidas geram tanto impacto assim? Uma matéria publicada pelo site da prestigiada revista Wired mostra que especialistas em sustentabilidade estão bem céticos quanto a isso.

Perspectivas

De acordo com a publicação, um dos que minimizam as ações ambientais da Apple é o próprio Ruediger Kuehr. Ele afirma que é importante colocar o impacto da remoção do carregador e dos EarPods dos iPhones e Apple Watches mais recentes em perspectiva.

“A porcentagem de carregadores provenientes de tablets, smartphones, entre outros dispositivos. é de apenas 0,1% do aumento total do lixo eletrônico no mundo”, disse ele. “Isso representa cerca de 54 mil toneladas métricas de lixo eletrônico gerado. Se você considerar apenas a parte da Apple, é provavelmente a metade ou menos. No máximo, você, provavelmente, poderia dizer que é 25 mil toneladas métricas, ou 0,05% do aumento total do lixo eletrônico anualmente”. 

Para o especialista, a falta de um adaptador de carregamento na caixa não significa que as pessoas não precisarão mais deles. As pessoas podem usar o que têm disponível em casa, mas muitos ainda comprarão adaptadores da própria Apple ou de outras marcas. “Eles agora precisam ser embalados e enviados separadamente dos telefones, aumentando assim as consequências ambientais”, afirmou.

A opinião de Kuehr é corroborada por Sara Behdad, pesquisadora de sustentabilidade da Universidade da Flórida. Para ela, “a análise da Apple é baseada na impressão de que muitos usuários realmente não precisam de carregadores e EarPods, porque eles já os têm. Mas muitos usuários não. Então, eles têm que comprá-los, e isso requer embalagem e transporte extra.”

A controvérsia do transporte

A alegação da Apple de que os iPhones 12 sem carregador e fones de ouvido ocupariam menos espaço nos caminhões, já que as embalagens seriam menores, também gera controvérsia. Segundo Sara Behdad, a forma como o iPhone é distribuído não se baseia em quantos aparelhos a empresa pode colocar em um compartimento de transporte, mas sim na demanda dos usuários e ela não acreditra que essa demana mudará:

Se eles já vendem 100 unidades de iPhones para uma loja específica, ainda assim o farão e enviarão esse número para o estabelecimento. Eles não enviam 200, assim, do nada para a loja. Eles enviam com base na demanda, não com base em quantos eles podem colocar em um compartimento de transporte”

Já Ruediger Kuehr chama a atenção para o fato de que a Apple não usa um cabo de carregamento universal para sua gama de dispositivos, ao contrário do ecossistema Android, que adotou o USB-C como padrão. O iPad Pro e o iPhone, por exemplo, usam dois cabos diferentes, criando mais lixo eletrônico.

Além disso, o iPhone 11, lançado em 2019, incluiu um adaptador de energia com uma porta USB-A. O iPhone 12 vem com apenas um cabo USB-C Lightning, que é incompatível com esse adaptador. Logo, a menos que o usuário tenha um adaptador USB-C de um fabricante de acessórios terceiro ou de outros eletrônicos, ele precisará de um novo item do gênero. Sim, mais lixo.

Além disso, há o acessório MagSafe, carregador magnético que pode incentivar os usuários a aderir à nova tecnologia e descartar carregadores antigos.

O alto custo do reparo

Seja um iPhone, um iPad, bem como outros dispositivos ou acessórios da marca, o fato é que consertar qualquer um deles é uma tarefa inglória. E, quase sempre, cara.

Por isso, Kuehr que a Apple pode fazer mais para permitir aos consumidores a opção de consertar seus próprios dispositivos. E, com isso, evitar que eles comprem novos aparelhos ou acessórios sempre que um produto da marca seja danificado. E essa poderia ser uma outra forma interessante de diminuir o lixo eletrônico.

E quais são as soluções para reduzir o impacto ambiental?

Bom, segundo a Wired, a primeira – e principal delas – é a Apple atingir um ciclo de produção de um iPhone usando materiais 100% recicláveis em todo o processo de fabricação – já que essa é a área onde o impacto ambiental do telefone é maior.

Kuehr diz que esse processo começa com a Apple configurando seu próprio sistema para ter os dispositivos usados de volta a suas mãos, reduzindo assim a necessidade de realizar mineirações na terra em busca de materiais. “Em seguida, eles projetarão as máquinas de uma forma que sejam mais fáceis de reciclar e reparar e onde os componentes podem ser reutilizados”.

A própria Apple anunciou essa iniciativa em 2017 com o objetivo de criar um circuito fechado de fornecimento e fez alguns progressos. A nova linha do iPhone 12 usa elementos de terra rara 100% reciclados para todos os ímãs internos, e o mesmo aconteceu para o Taptic Engine, que forneceu o feedback tátil da tela no iPhone 11. A Maçã também usa caixas de alumínio 100% reciclados há vários anos em produtos selecionados. Ela emprega bots de desmontagem para recuperar esses materiais preciosos a partir de dispositivos usados. Além disso, a empresa também recentemente decidiu se tornar neutra em carbono até 2030.

No entanto, levará algum tempo antes que a Apple revele um iPhone feito totalmente de componentes e materiais totalmente reciclados.

Outro caminho para uma diminuição mais efetiva do impacto ambiental passa justamente pelos carregadores. Seja pela padronização de uma conexão para todos os dispositivos (como já acontece, em boa medida, com o USB-C), seja com um padrão único e aberto na entrega de energia para carregamento de bateria.

No entanto, os adaptadores incluídos em muitos telefones, hoje, não são adequados o suficiente para recarregar dispositivos maiores e que consomem muita energia. Mas, conforme chegam mais carregadores de alta potência, será possível carregar um único adaptador para carregar seu smartphone, tablet, laptop e outros dispositivos.

Por fim, outra alternativa passa por um componente chamado Nitreto de Gálio (GaN), que é um composto com propriedades semicondutoras. O gálio e o nitrogênio, quando ligados, têm características que são vantajosas quando usados ​​para carregamento. Por exemplo, o composto pode esfriar mais rápido, ao mesmo tempo em que opera em temperaturas mais altas. Além disso, o GaN resulta em um adaptador de carregamento que é significativamente menor, oferecendo a mesma potência ou até mais. “Isso significaria menos plásticos, menos cerâmicas, menos fios de metal, menos processamento e menos reprocessamento para entregar a mesma função”, afirmou Huili Grace Xing, pesquisador de ciência dos materiais na Universidade Cornell.

A matéria foi redigida pelo CanalTech. Para acessar e ler ela completa acesse o site.

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