As seis mudanças urgentes para conter a emergência climática, segundo 11 mil cientistas

Um estudo global elaborado por cerca de 11 mil cientistas confirmou as pesquisas que apontam que o mundo está diante de uma emergência climática.

O estudo (em inglês), baseado em 40 anos de dados obtidos a partir de diferentes medições, aponta que os governos estão fracassando no combate a essa crise e que, sem mudanças profundas e duradouras, estamos diante da perspectiva de “sofrimento humano inédito”.

O trabalho também aponta seis áreas em que medidas imediatas poderiam ter um grande impacto na contenção da crise.

1. Energia:

A proposta do estudo é que políticos imponham altos impostos sobre a emissão de carbono, de forma a desestimular o consumo de combustíveis fósseis (como petróleo), além de eliminar os subsídios existentes para esse tipo de combustível.

Os pesquisadores defendem substituir o petróleo e o gás por energias renováveis e implementar medidas amplas de práticas de conservação, além de “deixar os estoques remanescentes de combustíveis fósseis no solo” — ou seja, deixar de explorá-los.

2. Poluentes de curta duração:

Trata-se de um grupo de gases que ficam por pouco tempo na atmosfera, mas têm grande impacto no efeito estufa. São eles o metano, a fuligem e hidrofluorcabonetos, e os pesquisadores afirmam que limitar sua emissão tem o potencial de reduzir a atual tendência de aquecimento global em até 50% ao longo das próximas décadas, “além de salvar milhões de vidas e aumentar colheitas graças à redução da poluição do ar”.

Redução no desmatamento, como este na Amazônia, é uma das medidas urgentes indicadas pelos cientistas — Foto: Getty Images via BBC

3. Natureza:

O estudo pede mais esforços para a preservação e a restauração de ecossistemas da Terra — por exemplo, fitoplâncton, recifes de corais, florestas, savanas, mangues e pântanos contribuem “significativamente” para a absorção de CO2. “Plantas terrestes e marinhas, animais e micro-organismos têm papéis importantes no armazenamento do carbono”, diz o texto.

“Devemos rapidamente impedir a perda de habitat e de biodiversidade, protegendo as florestas ainda intactas, sobretudo aquelas com alta taxa de absorção de carbono, (…) e ao mesmo tempo aumentar o reflorestamento em grande escala. Embora a terra disponível esteja se limitando em alguns lugares (por causa das mudanças climáticas), um terço da redução de emissões necessária até 2030 para o (cumprimento do) Acordo de Paris pode ser obtido com essas soluções naturais.”

4. Comida:

O estudo argumenta que uma alimentação mais à base de frutas, vegetais, grãos e oleaginosas e menos voltada para a proteína animal, particularmente gado ruminante, “pode melhorar a saúde humana e reduzir significativamente as emissões de gases do efeito estufa”, diz o texto, agregando que práticas mais eficientes de cultivo e colheita e redução da “enorme quantidade de desperdício de comida” também são vitais.

5. Economia:

Para os cientistas, a extração extensiva de matérias-primas e a exploração em excesso dos ecossistemas, na busca pelo crescimento econômico, devem ser “rapidamente contidas para a manutenção de longo prazo da nossa biosfera”.

“Precisamos de uma economia livre de carbono e políticas públicas que guiem decisões econômicas nesse sentido”, argumenta o estudo. “Nossa meta deve mudar de crescimento do PIB para a sustentabilidade de ecossistemas e a melhora do bem-estar humano, priorizando necessidades básicas e reduzindo a desigualdade.”

6. População:

O estudo aponta que a população humana na Terra aumenta em mais de 200 mil pessoas por dia e defende que isso seja estabilizado (e depois reduzido) “com parâmetros que garantam a integridade social”.

“Há práticas comprovadas e eficientes que fortalecem os direitos humanos ao mesmo tempo em que reduzem taxas de fertilidade e reduzem os impactos do crescimento populacional nas emissões de gases-estufa e na perda de biodiversidade”, prossegue o texto. “Essas políticas tornam o planejamento familiar disponível a todas as pessoas, removem barreiras a seu acesso e alcançam a plena igualdade de gênero, incluindo a educação primária e secundária como norma geral, sobretudo para meninas e jovens mulheres.”

“Temos altas emissões, temperaturas crescentes, sabemos disso há 40 anos e não agimos — não é necessário ser um gênio para saber que temos um problema”, diz à BBC um dos principais autores da pesquisa, Thomas Newsome, da Universidade de Sydney.

Divulgado no mesmo dia, 6 de novembro, em que dados de satélite apontam que o mês de outubro foi o mais quente já registrado, o estudo afirma que apenas medir as temperaturas da superfície terrestre é um modo inadequado em evidenciar os perigos reais de um mundo em processo de aquecimento.

Por isso, os autores listaram diversos dados que mostram, nos últimos 40 anos, o crescimento das populações humana e animal, a produção per capita de carne (que é altamente poluente) e o consumo de combustíveis fósseis.

Houve, ao mesmo tempo, avanços em outras áreas. Por exemplo, a energia renovável cresceu significativamente, embora ainda tenha fatia muito menor que o uso de combustíveis fósseis.

Mas, somando tudo, os pesquisadores dizem que estamos indo na direção errada e intensificando a emergência climática.

“Uma emergência significa que se não agirmos ou respondermos aos impactos das mudanças climáticas e reduzirmos as emissões de carbono, a produção de gado, o desmatamento e o consumo de combustíveis fósseis, os impactos provavelmente serão mais severos dos que os que já vivemos até agora”, prossegue Newsome.

“Isso pode fazer com áreas da Terra se tornem inabitáveis para humanos.”

Os cientistas signatários se dizem, também, frustrados pelo fato de que múltiplas conferências e assembleias climáticas tenham tido poucos efeitos práticos. Mas destacam que “fomos encorajados por uma recente onda global de preocupação com o clima — governos adotando novas políticas, crianças realizando greves, processos judiciais avançando, e movimentos cidadãos demandando mudanças”.

Fonte: BBC

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