Fonte: UOL
Reduzir a concentração do poluente ozônio nas metrópoles só é possível diminuindo a quantidade de veículos, concordam especialistas.
Em sua tese de doutorado, o pesquisador Júlio Barboza Chiquetto, da USP (Universidade de São Paulo), fez várias simulações de cenários para ver o impacto de modificações na realidade sobre o comportamento da atmosfera.
Mesmo no cenário fictício em que toda a mancha urbana se transformava em floresta com o mesmo número de carros, o impacto para esse poluente não foi tão forte quanto nos cenários em que se manteve a mancha urbana com a diminuição da frota de veículos.
“Para reduzir poluição, só tem uma maneira: tem que reduzir as emissões. No caso do ozônio, reduzir emissões veiculares”, diz Paulo Artaxo, pesquisador e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O ozônio é um dos principais poluentes presentes nas grandes cidades. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda a medição dele juntamente com o material particulado 2,5 (mp2,5). Atualmente, em São Paulo, há 98 municípios com níveis crônicos de ozônio acima do considerado ideal pela OMS. Em 2013, a lista oficial indicava problemas de poluição em 90 localidades.
Ozônio causa doenças respiratórias
O ozônio em excesso pode causar problemas respiratórios, desencadear asma, reduzir a capacidade do sistema respiratório e causar doenças respiratórias. Segundo a OMS, estudos feitos na Europa mostram que a mortalidade diária cresce 0,3% e as doenças coronárias aumentam 0,4% por 10 microgramas por m3 de aumento da exposição ao ozônio.
Pesquisa divulgada pela OMS mostrou que 92% da população mundial vive em áreas que excedem os níveis recomendáveis de poluição. Estima-se 7 mil mortes por ano no município de São Paulo decorrentes da poluição em geral.
Em 2015, a região macrometropolitana de São Paulo tinha 8 milhões de automóveis e 1,7 milhão de motocicletas, segundo a Cetesb (Companhia Ambiental Do Estado De São Paulo), compreendendo a área geográfica que reúne as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Baixada Santista, Vale do Paraíba e Sorocaba, além de aglomerações urbanas importantes como Jundiaí, Bragança Paulista e Piracicaba. Isso representa 75% da frota de todo o Estado de São Paulo.
O ozônio é formado pela combinação de hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio emitidos por veículos com a radiação solar. “Uma moto emite mais de dez vezes o que um carro emite em termos de poluentes. Ou seja, um milhão de motos polui mais do que 7 milhões de carros”, diz Sérgio Machado Correa, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro especialista em química atmosférica.
Ele ainda explica que os carros de baixa cilindrada (como carros mil) emitem muito NOx, assim como o carro a gás natural. Já as motos emitem muitos hidrocarbonetos.
Meio de transporte de massa
Os especialistas concordam que a alternativa para reduzir os carros é o investimento em meios de transporte em massa, principalmente o metrô e corredores de ônibus.
“Na minha opinião, as pessoas só deixam o carro na garagem por metrô. Aqui no Rio, na Barra da Tijuca, mesmo com a inauguração do BRT e continuou engarrafado. Agora com o metrô e o engarrafamento diminuiu muito”, diz Correa.
Artaxo lembra que os padrões de qualidade do ar para ônibus na Europa, por exemplo, são mais rigorosos que no Brasil. “Os ônibus seguem padrão de emissão Euro 6, de 100 a 500 vezes menor do que os ônibus que estão rodando na cidade de São Paulo”, diz. Para ele, é necessária a mudança da legislação.
Apenas fiscalizar os carros para emitirem menos poluentes também não seria suficiente, comenta Chiquetto, pois o aumento da frota acabou compensando negativamente os esforços nesses sentido nos últimos anos. No relatório de emissões veiculares divulgado pela Cetesb, o órgão comenta sobre o ano de 2015: “Ainda que os fatores de emissão dos veículos novos estejam decrescendo, o aumento da frota e o intenso uso dos automóveis comprometem os ganhos obtidos com os avanços tecnológicos.”
A melhoria da qualidade dos combustíveis também poderia contribuir para a redução da poluição, avalia Correa.
Onde tem mais ozônio?
Ao contrário do senso comum, as áreas residenciais e os parques têm a maior concentração desse poluente. Um dos motivos é que, por ser muito reativo, o ozônio também é consumido na reação com outras moléculas no meio das avenidas movimentadas.
“Quando há uma saturação desses poluentes, além de atuar como precursores, eles também podem atuar como consumidores do ozônio”, explica Chiquetto.
Os poluentes que ficam nas avenidas são consumidos lá quando chega em um determinado nível de saturação. Os que são levados pelo ar para outros locais, não são consumidos no local, pois os locais não têm a saturação tão alta necessária para diminuir o ozônio, então viram ozônio. Mas, nas avenidas, por exemplo, tem mais outras coisas, por exemplo, CO2.
Outro motivo é que a reação química que forma o ozônio acontece só duas horas depois da emissão. Uma parte dos poluentes é transportada pelo ar para outras regiões mais distantes e se não houver alta concentração de óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, o ozônio se acumula por lá, como é o caso do Ibirapuera e da Cidade Universitária. A OMS recomenda 100 microgramas por metro cúbico de ozônio em oito horas.