Licenciamento Ambiental Federal: o bordado como ferramenta de educação e participação social

Dois programas de educação ambiental exigidos pelo Ibama no licenciamento da Linha de Transmissão Porto Velho-Araraquara 2 usam o bordado para difundir conceitos ambientais, mobilizar grupos em busca de interesses comuns e promover a inclusão socioprodutiva das populações de 11 municípios impactados pelo empreendimento nos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Rondônia e São Paulo.

O Projeto Entre Rios, que estimula a reflexão sobre o uso sustentável dos recursos hídricos, capacita 262 bordadeiras em 9 municípios (Acorizal, Chapada dos Guimarães e Jaciara, em Mato Grosso; Caçu e Santa Rita do Araguaia, em Goiás; Iturama, em Minas Gerais; e Ibirá, Fernandópolis e Potirendaba, em São Paulo). Além de possibilitar a mobilização e a comunicação de riscos relacionados a cursos d’água e nascentes a comunidades ribeirinhas, o programa promove a internalização de valores ambientais por moradores da área de influência da linha de transmissão e a valorização do patrimônio cultural da região. As participantes bordam o cotidiano e as tradições locais.

O Projeto Quintais, desenvolvido em Candeias do Jamari (RO) e Gavião Peixoto (SP), realizou o manejo de 60 quintais que ofereciam riscos à saúde, com a retirada de lixo, entulho e água empoçada, eliminando ambientes favoráveis para vetores de doenças. A iniciativa também promove a produção orgânica em 56 quintais e 4 escolas públicas, realizou oficinas de agroecologia para 60 pessoas, distribuiu mudas e adubo orgânico e ofereceu assessoria técnica para plantio, além de capacitar 8 monitores para dar suporte à comunidade. O bordado complementa o aprendizado ao estimular uma interpretação artística da relação entre moradores e quintais da região.

Ao promover a educação ambiental nos municípios atingidos pelo empreendimento, os projetos Entre Rios e Quintais também possibilitam resgatar a autoestima das comunidades e fazer do bordado uma fonte de renda.

Para a aposentada Delice da Silva, moradora da Chapada dos Guimarães (MT) há cinco anos, o bordado traz alegria e força. “Acabou com a depressão, com a tristeza, com a insônia e com a angústia. Eu vivia fazendo exames que davam anemia, bursite, tendinite. Acabou! E eu tomei alguma coisa? Não, eu almocei, jantei e merendei bordado. Hoje eu sou presidente do bairro Pôr do Sol, onde eu moro, e também sou presidente do Conselho Deliberativo Quilombola daqui de Chapada dos Guimarães. Na semana passada eu estive em Brasília, na Fundação Palmares. A minha vida, que estava totalmente destruída e apagada, renasceu”, diz Delice.

Celene Rorigues, uma das monitoras voluntárias do Projeto Entre Rios, borda desde os 17 anos. Ela conta que quando era adolescente o bordado era obrigatório e a professora, exigente. “Eu, a Aurora, a Ana e a Paula montamos um grupo de bordadeiras lá num bairro carente que se chama Kubstein (na Chapada dos Guimarães – MT). Ficamos três meses e já tínhamos 15 bordadeiras. Saímos de lá porque na frente tinha um bar. Havia umas pessoas que ficavam bêbadas e vinham afrontar as meninas. Nesse meio tempo, duas amigas me disseram ‘Celene, nós temos um grupo aqui no Sol Nascente e esse bairro é tão carente quanto o Kubstein, até mais’. Aí trocamos de bairro, começamos a ensinar bordado toda quinta-feira, das cinco e meia, porque as mães são trabalhadeiras e as meninas vão para a escola, até as oito e meia. Em setembro, eu estava no Rio Grande do Sul e a Paula começou o curso com as Dumond (integrantes da equipe técnica do Projeto Entre Rios). Quando nós entramos aqui (no Projeto), trouxemos todas as nossas alunas”, explica Celene.

Moradora da zona rural do município de Acorizal (MT), a agente de saúde Regina Leite vê no bordado a renda a mais que todo mundo precisa. “Quando eu cheguei aqui não sabia um ponto. Esse encontro de bordadeiras me fez ter um novo olhar para as coisas. Nos primeiros bordados eu usava cor única. Tudo meu era verde. Aí me disseram ‘Use matizado. Cada galho de uma cor. Observe a natureza.’ Quando eu vejo uma árvore já vou pensando no meu bordado. O caju me chamou muita atenção. Posso fazer alaranjadinho, puxado para o amarelo, mescladinho. A gente tem que ter paciência e dedicação”, diz Regina.

A exposição Entre Rios Entre Nós, em exibição desde 22 de fevereiro na Galeria Térreo do Museu Nacional da República, em Brasília, apresenta peças produzidas pelas bordadeiras capacitadas nos projetos de educação ambiental do Ibama. Os trabalhos permanecem expostos até 5 de abril.

Representantes de grupos de bordado em atividade nos municípios atingidos pela Linha de Transmissão Porto Velho – Araraquara 2 também participaram do Fórum Mundial da Água. Na ocasião, foram recebidas na sede do Ibama pela presidente do Instituto, Suely Araújo, e pela Diretora de Licenciamento Ambiental, Larissa Amorim.

Fonte: Ibama

 

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