“Por hectare, Brasil não é país que mais usa agroquímicos”

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O presidente da Bayer no Brasil, Theo van der Loo, afirmou em entrevista à DW Brasil que o país não é o que mais usa agrotóxicos se for considerado o uso por hectare.

“O uso dessas substâncias no Brasil é muito alto porque o Brasil é um grande produtor. Além de o país ser grande, tem duas safras por ano, às vezes até três. Na Europa e nos EUA é apenas uma safra por ano. Por hectare, de longe o Brasil não é o país que mais usa agroquímico”, disse o executivo paulista de 63 anos, no comando da empresa desde 2011.

“Há uma má percepção de que a gente gosta do uso de agroquímicos. Nós queremos o uso responsável. A tendência para o futuro é reduzir o uso desses produtos, pois com a digitalização das lavouras é possível descobrir pragas mais cedo e agir sobre elas sem precisar colocar o químico em todas as plantas”, acrescentou.

Com a eminente aquisição da gigante Monsanto pela empresa alemã, anunciada há menos de um mês, a “nova” Bayer já nasce líder no comércio de agrotóxicos no Brasil, país que há dez anos lidera o ranking mundial de uso dessas substâncias nas lavouras, na comparação por habitante e também no uso total. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, o Brasil usa em média 7,13 litros de agrotóxicos por habitante ao ano.

Durante o encontro Econômico Brasil-Alemanha, que ocorreu em Colônia nos dias 25 e 26 de junho, Van der Loo concedeu entrevista à DW Brasil sobre a expectativa com as mudanças que a aquisição vai trazer. Ele falou também sobre o polêmico projeto de lei que tramita na Câmara e que quer facilitar a aprovação de uso de agrotóxicos (ou agroquímicos, como prefere o executivo) no Brasil.

DW Brasil: A Bayer anunciou recentemente a compra da Monsanto, num negócio que chega a 67 bilhões de dólares. No Brasil, as duas empresas ocupam lugar de destaque nos setores do agronegócio e farmacêutico. O que deve mudar com essa aquisição?

Theo van der Loo: Não posso entrar em muitos detalhes porque a compra foi aprovada, mas a fusão física não pode acontecer por enquanto. Continuam duas empresas independentes até nós desmembrarmos tudo que deve ser desmembrado na Bayer. Por exemplo, o setor de transgênicos da Bayer será transferido para a Basf como parte do acordo de compra da Monsanto. Isso está ocorrendo no mundo todo. No Brasil isso significa repassar o setor de sementes que nós tínhamos, além de soja e vegetais. Há ainda os Centros de Pesquisas de Sementes da Bayer, que também vão para a Basf.

Quais são as etapas que ainda faltam para concretizar a fusão? Há algum prazo?

É preciso passar pelo Cade. Por enquanto, nós não temos nenhum contato com a Monsanto até que essas questões sejam resolvidas. É difícil precisar um tempo. Mas posso dar exemplo de outras aquisições da Bayer, como foi o meu caso. Sou fruto de uma aquisição da Bayer, pois eu estava na Schering (empresa do setor farmacêutico adquirida pela Bayer em 2006). O tempo pode variar, pois algumas ações são imediatas, e outras podem demorar um ou dois anos.

O que seria imediato?

A parte administrativa é o mais rápido. Recursos humanos e folha de pagamento. Neste caso, a parte de pesquisa também é tranquila para a transferência. O que nós tínhamos de pesquisa em sementes vai passar para a Basf, e vamos receber o que é da Monsanto.

Qual a previsão de investimentos no Brasil após essas mudanças?

Investimos cerca de R$ 200 milhões por ano no Brasil e isso deve aumentar, principalmente no setor de agronegócio, onde fazemos pesquisas de forma regional devido ao clima diferente que o país possui, dependendo da região. Hoje temos centros de pesquisa agrícola no Paraná, no Mato Grosso e em Tocantins. A Bayer já está no Brasil há 123 anos, então a presença já é estável. Com a aquisição da Monsanto, no futuro o nosso maior investimento vai ser no agronegócio.

Na área farmacêutica existe uma consolidação mundial, pois antes as empresas tinham fábricas em vários países. Hoje, por motivos regulatórios, há poucas fábricas em alguns países, e isso deve suprir o mundo. Temos uma fábrica no Brasil. Metade das unidades fabricadas no Brasil ficam no país para consumo. Mas muitas fábricas fecharam nos últimos anos, então o clima para investir em novas fábricas não é muito grande.

Há a possibilidade de a Bayer voltar a investir em medicamentos genéricos?

Não. A Bayer não produz genéricos porque a rentabilidade é menor. Já chegamos a produzir em outros países, mas paramos. Muitas multinacionais não dão mais prioridade para essa área. O genérico é o segmento que mais cresce, e nessa área os genéricos com marca são os maiores mercados. Mas só há genérico se houver inovação, pois o genérico é uma consequência de uma droga que foi desenvolvida, autorizada a patente e depois venceu essa patente. Uma patente demora cerca de dez anos para vencer. Por isso, a inovação é importante. Sem inovação, não há ciclo dos genéricos.

Há um projeto de lei tramitando na Câmara que facilita a autorização de uso de agrotóxicos no Brasil, que atualmente dependem da aprovação de três ministérios para poderem ser liberado. Empresas gigantes no setor estariam apoiando o projeto, chamado por ambientalistas de “pacote do veneno”. Qual o posicionamento da Bayer?

Isso ainda está em discussão. Obviamente você precisa respeitar a área regulatória do país, o que a gente tenta trazer é um intercâmbio de experiências entre a Alemanha e o Brasil nessa área. No caso do agroquímico existem muitos mitos, o uso dessas substâncias no Brasil é muito alto porque o Brasil é um grande produtor. Além de o país ser grande, tem duas safras por ano, às vezes até três. Na Europa e nos EUA é apenas uma safra por ano. Por hectare, de longe o Brasil não é o país que mais usa agroquímico.

Há uma má percepção de que a gente gosta do uso de agroquímicos. Nós queremos o uso responsável. A tendência para o futuro é reduzir o uso desses produtos, pois com a digitalização das lavouras é possível descobrir pragas mais cedo e agir sobre elas sem precisar colocar o químico em todas as plantas.

Lembrando que nós, na Bayer, estudamos tudo o que colocamos nas plantas e o resíduo que sobra nela. Se o agroquímico for utilizado corretamente, quando chegar ao consumidor não haverá mais agroquímico.

Mas há estudos, inclusive da Fundação Oswaldo Cruz, que apontam os efeitos negativos dos agrotóxicos e também que há vários tipos permitidos no Brasil, mas proibidos na Alemanha e no restante da Europa.

Não sou agroquímico, venho da área farmacêutica, então não tenho todos os detalhes. Mas o que tenho a dizer é o seguinte: tem um pouco a ver com o atraso da aprovação das novas moléculas, então para o Brasil também não é bom esse atraso. Podemos trazer coisas mais novas e retirar as mais antigas. E ainda tem outro assunto, que é o tipo de pragas e doenças do Brasil, que são diferentes das de uma região não tropical. Isso tem que se discutido. O ideal é acelerar a aprovação de novas moléculas para podermos retirar as mais antigas.

Fonte: Deutsche Welle

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