Fonte: Programa Cidades Sustentáveis
Os casos de seca que levaram a decretos de situação de emergência ou calamidade pública no país dispararam entre 2003 e 2015, segundo dados mais recentes da ANA (Agência Nacional de Águas). Ao longo do período de 13 anos, o número desses episódios cresceu 409%.
Nesse mesmo intervalo, também aumentou a quantidade de municípios no país que decretaram emergência ou calamidade em decorrência das secas. O salto foi de 199%.
Como a Folha revelou no domingo (19), a seca no Nordeste é a pior desde 1961, segundo registros do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
De acordo com a ANA, os reservatórios locais estão com 13,8% da capacidade. E, segundo o Ministério da Integração Nacional, 835 municípios da região estão em estado de emergência.
Para situações como essas, o ministério afirma, por meio da assessoria, oferecer ajuda para a criação de poços artesianos, o transporte de carros-pipa e a realização de obras de adutoras. Depois, mantém o monitoramento dos locais afetados.
Mas, de acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, a política de recursos hídricos no Brasil só funciona no curto prazo, na maioria das vezes. Ainda segundo eles, os investimentos nessa área têm sido insuficientes.
Para estudiosos do tema, como a meteorologista da USP Maria Elisa Siqueira, a sucessão dos eventos de seca na história do país e a previsibilidade do clima, por meio de monitoramento, evidenciam um razoável atraso na adoção de práticas mais sustentáveis de administração da água.
Em nota, a ANA admite que tem percebido “a necessidade de atualizar as práticas regulatórias e de gestão”.
De acordo com a meteorologista, o país passou por um evento climático que impulsionou o aumento do número de secas nos anos 2000. O aquecimento das águas do Oceano Pacífico levou uma massa de ar quente ao Nordeste, afastando as chuvas da região.
Contudo, diz ela, “existem áreas do globo que são muito áridas e sobrevivem com menos chuvas e melhor gerenciamento das águas”.
O Plano de Segurança Hídrica, a cargo da ANA e do Ministério da Integração, está previsto para 2018.
Ele irá indicar as principais intervenções necessárias para o aperfeiçoamento da gestão dos recursos hídricos, como a construção de barragens e sistemas adutores.
Segundo Josiclêda Galvíncio, pesquisadora de recursos hídricos na Universidade Federal de Pernambuco, é fundamental também suprir a carência no tratamento de água e esgoto.
Para a pesquisadora, o país precisa de dados mais consistentes sobre uso e ocupação do solo, que permitiriam, por exemplo, tratar mananciais.