O Brasil é a “Árabia Saudita” do carbono. A afirmação é de Luis Felipe Adaime, criador da Moss, a primeira bolsa de carbono do país. Por meio dela, investidores podem adquirir “tokens” atrelados a créditos de carbono, da mesma forma que adquirem moedas virtuais, que usam blockchain, como a bitcoin. Sua expectativa para esse mercado, no Brasil, é que ele atinja 45 bilhões de dólares, em menos de uma década.
“Nenhum país tem esse potencial”, afirma Adaime. A conta leva em consideração a expectativa de preço do crédito de carbono (cada crédito equivale à captura de 1 tonelada de carbono) e o potencial florestal brasileiro em capacidade de certificação de projetos. Hoje, o país certifica cerca de 5 milhões de toneladas por ano, mas poderia certificar 1,5 bilhão de toneladas. Considerando o preço atual praticado no mercado regulado europeu, o maior do mundo, de 30 dólares por tonelada, chega-se ao valor de 45 bilhões de dólares.
Para Adaime, a conta é até conservadora. “O preço vai subir muito mais”, diz ele. As estimativas da gestora britânica Schroders, por exemplo, apontam que, para atingir a meta do Acordo de Paris, de manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 graus Celsius, o carbono deve ser precificado a 100 dólares por tonelada.
inda segundo a Schroders, considerando o preço praticado no mercado europeu em fevereiro do ano passado, aproximadamente 25 dólares por tonelada, o valor em carbono contido em todas as florestas do mundo alcançava 1,6 trilhão de dólares. Aí que está o detalhe: o Brasil é dono de quase 40% das florestas tropicais, as mais preservadas do planeta. O país que chega mais perto em termos de volume é a República Democrática do Congo, com 11%. “Sem dúvida, considerando a estabilidade democrática que ainda temos, não há quem chegue perto do nosso potencial”, diz Adaime.
Esse sonho trilionário ainda está um pouco distante, e depende de variáveis como a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação de um mercado global de carbono. Mas, no curto prazo, também há um enorme potencial no chamado mercado voluntário, que congrega empresas que fizeram compromissos de descarbonização.
Somente este ano, grandes companhias como Amazon, Unilever, Delta Airlines, Microsoft, entre outras, se comprometeram a compensar 163 milhões de toneladas. “Elas estão antecipando um cenário regulatório que, acredito, virá”, diz Adaime, se referindo à possibilidade do setor produtivo ser obrigado a zerar suas emissões por força de lei. “É isso que está faltando para reduzir as emissões: poder de polícia.” Para fazer valer seus compromissos, essas empresas terão de comprar muito carbono, e o Brasil pode fornecer.
Fonte: Rodrigo Caetano em 12/11/2020 para EXAME. Leia a matéria completa aqui.