Fonte: Jornal da USP
Há mais de dez anos, uma oficina, no campus da USP em São Carlos, constrói veículos de alta eficiência energética. São pequenos carros feitos para percorrer o máximo de quilômetros gastando o mínimo de energia possível. Essa é a EESCuderia Mileage, equipe formada por 34 alunos da USP, a maioria da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC).
Foi de lá que saiu o Faísca, carro elétrico que alcançou o recorde nacional em eficiência energética no ano de 2013. Uma conquista que ainda não foi superada por nenhum outro veículo do País, mas que a própria equipe pode ultrapassar.
Com vista na Shell Eco-marathon Brasil, versão nacional da competição que existe desde 1985 nos Estados Unidos, a equipe preparou um modelo sucessor ao Faísca: o Venturo, adjetivo que faz alusão ao futuro e que também representa a nova etapa de um time que se reinventou.
Segundo os cálculos dos alunos, com apenas R$ 5, o Venturo poderia cruzar o Brasil de Norte a Sul. Isso, claro, só na teoria. Para ser usado nas ruas das cidades, o veículo precisaria ser equipado e adaptado às leis de trânsito brasileiras.
Com 24 quilos, uma vantagem competitiva do Venturo é ser um carro leve. Diferente do Faísca, que tinha uma estrutura única (chamada monocoque), o novo carro é dividido entre a carenagem, estrutura que recobre o veículo, e um chassi econômico, que une a base do carro ao banco do piloto em uma única peça. Isso confere mais leveza e aumenta sua eficiência energética.
As mudanças foram feitas para que o Venturo pudesse se adequar melhor aos padrões exigidos nas competições, sanando algumas deficiências mecânicas que o antigo carro apresentava. “O Faísca é nossa história, com ele conseguimos atingir o recorde brasileiro, mas a ideia do Venturo, do ‘futuro’, é exatamente progredir e inovar além dele”, diz Hermano Esch, presidente da Mileage e estudante de Engenharia Mecânica.
“Nossa ideia é formar engenheiros melhores, ou seja, todo mundo tem oportunidade de trabalhar e poder idealizar um pouco do carro para podermos tomar decisões em conjunto”, explica o estudante.
O veículo, movido a energia elétrica, consegue rodar durante uma hora e meia com uma velocidade média de 40 km/h. Recarregar não é problema: basta usar um cabo para ligá-lo a uma tomada de 110 ou 220 volts.
Mais do que competidores
Era 2008 quando a EESCuderia Mileage participou pela primeira vez da Maratona Nacional de Eficiência Energética, competição que reúne equipes universitárias de todo o Brasil. Cinco anos depois, a equipe não só conquistou o primeiro lugar na maratona, com o carro Faísca, como também atingiu o recorde nacional, que detém até hoje.
Desde 2015, no entanto, a Maratona Nacional deixou de ser realizada, e só agora começa a dar previsão de volta, transformando-se no Grande Prêmio Brasil de Energia Sustentável.
Sem competição para participar, surgiu a oportunidade da Mileage olhar para si mesma, expandindo sua atuação para além do automobilismo. “A equipe passou a se questionar sobre o papel que tinha na sociedade”, lembra o professor Luís Carlos Passarini, orientador do time.
O próprio professor começou a priorizar os esforços para formar uma equipe melhor, que fosse mais engajada com a comunidade e com o desenvolvimento pessoal de cada membro, do que apenas focada na necessidade de ter carros melhores para as competições.
Esse foi um comprometimento também adotado pelos alunos. “A eficiência não está só no carro, ela também está na nossa forma de se organizar e trabalhar. Queremos harmonia com a Universidade”, diz Hermano Esch.
Fruto da nova fase da Mileage foi a criação da Semana de Eficiência Energética, evento organizado pela equipe para discutir soluções sustentáveis para a produção e o consumo de energia, que em outubro realiza sua segunda edição.
Em 2017, o Venturo trouxe a possibilidade de voltarem mais uma vez às pistas. A equipe se prepara para a Shell Eco-marathon Brasil, que desde o ano passado é realizada no Brasil. A competição será entre os dias 6 e 9 de novembro, no Rio de Janeiro.