Fragmentos do recém-descoberto recife de corais no Atlântico próximo à região da foz do rio Amazonas foram encontrados não apenas no Brasil, mas também em águas da Guiana Francesa.
As estruturas foram localizadas por pesquisadores a bordo do navio Esperanza, cedido pelo Greenpeace para a missão científica, anunciaram os participantes da expedição nesta sexta-feira (11/05).
“Registramos imagens de alguns corais e espécies de peixes. Futuras análises nos dirão mais sobre a presença da pluma do rio Amazonas, sedimentos e microorganismos na região”, comenta Gizele Duarte Garcia, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os corais foram localizados entre 95 e 120 metros de profundidade em duas áreas diferentes, a cerca de 150 quilômetros da cidade de Caiena, na Guiana Francesa. Anunciado em 2016 num artigo publicado por pesquisadores brasileiros numa revista científica, o recife só havia sido localizado até então em águas brasileiras.
Em 2013, blocos para exploração de petróleo foram leiloados na região conhecida como Bacia da Foz do Amazonas pela ANP, Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. A empresa francesa Total, que adquiriu blocos à época, é a mais adiantada no processo de licenciamento junto ao Ibama.
“A revelação torna ainda mais importante proteger essas áreas da exploração do petróleo. Com as fortes correntes que existem no mar da região, um derramamento de óleo nas plataformas da Total situadas no Brasil poderia também atingir e danificar o recife na porção da Guiana Francesa”, afirma Helena Spiritus, bióloga do Greenpeace.
No fim de abril, o Ministério Público do Amapá recomendou ao Ibama a não autorização da exploração de petróleo na região. Além da Total, a inglesa BP também busca o licenciamento.
Segundo o Ibama, a decisão sobre o licenciamento ainda não tem prazo para sair.
Corredor submarino
Para os cientistas, os corais da Amazônia podem funcionar como um corredor de conectividade entre duas grandes regiões: Caribe e Brasil.
“Aqui no recife do Amazonas, a gente encontra um pouco do que a gente encontra no Brasil e um pouco do que ocorre no Caribe. Então a gente tem aqui uma sobreposição de organismos que ocorrem nas duas regiões”, disse Ronaldo Francine-Filho, pesquisador da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) que participou da primeira parte da expedição.
Até então, acreditava-se que o rio Amazonas, pelo gigantesco volume de água doce que despeja no mar, funcionasse como uma barreira geográfica. O recife pode significar um elo.
“A descoberta dos fragmentos na Guiana Francesa reforça a tese do estudo que mostra evidências de que os Corais da Amazônia fazem parte de um grande bioma entre o Atlântico Caribe”, complementa a bióloga do Greenpeace.
Estima-se que o recife cubra uma área de 56 mil quilômetros quadrados, maior que o estado do Rio de Janeiro.
Fonte: Deutsche Welle