O que é mais importante: a variedade ou qualidade dos alimentos?

Com certeza, você já ouviu o conselho de que deveria ingerir uma variedade de alimentos para ter uma dieta nutricionalmente adequada.

No entanto, um painel de especialistas afirmou que essa recomendação de longa data pode estar desatualizada.

Na última revisão das evidências, cientistas da Associação Americana do Coração descobriram que ter uma dieta variada pode não levar necessariamente a uma saúde melhor, especialmente quando se trata de reduzir o risco de doenças crônicas como obesidade, doença cardíaca e diabetes. Na verdade, nos anos recentes, dietas mais diversas estavam ligadas a piores resultados nessas medidas.

O artigo com as descobertas foi publicado na revista científica Circulation.

Qualidade > diversidade

O conselho para consumir uma variedade de alimentos tem sido incluído há muito tempo em diversas diretrizes dietéticas governamentais. Porém, conforme explica o novo estudo, essa indicação baseia-se em grande parte em estudos antigos com populações de baixa renda que descobriram que o consumo de uma ampla gama de alimentos ajudava a evitar deficiências nutricionais.

No ambiente atual, por outro lado, onde a comida é abundante e a desnutrição menos prevalente, esse conselho pode sair pela culatra.

Para determinar se uma dieta era diversificada, os pesquisadores desses estudos anteriores analisaram a uniformidade da dieta, que mediu quais tipos de alimentos forneceram mais energia ou calorias, e a diferença da dieta, que mediu características específicas de diferentes tipos de alimentos, como a quantidade de fibra ou a forma como a comida foi processada.

Usando essas diferentes definições de diversidade, os estudos não encontraram um benefício geral de saúde das chamadas “dietas variadas”. Quando focaram na qualidade da dieta – por exemplo, se ela continha principalmente gorduras saudáveis, muitas frutas e vegetais e quantidades limitadas de carne vermelha e laticínios -, entretanto, os estudos descobriram que essas dietas estavam de fato associadas com menor risco de doenças crônicas.

Variedade de coisas ruins

Em alguns dos estudos revisados, as pessoas cuja dieta continha maior variedade de alimentos tendiam a ingerir muitos alimentos nutritivos, como peixes, frutas e vegetais, mas também muitas porcarias, como doces, lanches e outros alimentos processados.

Isso não é totalmente surpreendente. Acontece que as pessoas que comem uma maior variedade de alimentos também tendem a comer mais alimentos não saudáveis, em comparação com pessoas com dietas menos diversificadas, como os veganos, que consomem mais frutas e vegetais.

A maior variedade alimentar também foi associada a uma maior ingestão calórica e ganho de peso. Pequenos estudos mostraram que a variedade maior de opções alimentares pode demorar mais a satisfazer as pessoas, aumentando a quantidade de comida que elas ingerem.

Segundo Marcia Otto, professora de epidemiologia, genética humana e ciências ambientais da Universidade do Texas (EUA), as pessoas deveriam se preocupar menos com a variedade e mais com a qualidade da dieta, mesmo que isso signifique encher metade de seu prato com um ou dois vegetais que você gosta e evitar outros.

Escolha bem

Uma “dieta variada” significa algo diferente hoje comparado a quando o conselho foi dado pela primeira vez no início do século XIX.

Naquela época, as preocupações com a saúde se concentravam em torno da desnutrição e das pessoas que não recebiam quantidades adequadas de vitaminas, de forma que a recomendação oferecia a elas uma melhor chance de obter suas necessidades nutricionais nas refeições diárias. “Hoje em dia, no contexto da supernutrição, especialmente em países como os Estados Unidos e países de renda média, estamos preocupados com doenças crônicas como doenças cardíacas, obesidade e diabetes tipo 2″, explica Otto.

Isso não significa que comer uma variedade de alimentos não seja bom para você; é só que as pessoas estão interpretando a palavra “variedade” para incluir todos os tipos de alimentos, alguns dos quais podem não ser necessariamente saudáveis.

Em última análise, é a quantidade de frutas, legumes, nozes e outros alimentos nutritivos que você come que importa, não a variedade. “Queremos que o público em geral saiba que tudo bem se a sua dieta não for muito diversificada, desde que você esteja se concentrando em alimentos saudáveis e tentando minimizar o consumo de alimentos não saudáveis”, conclui Otto. [NYTimesTime]

 

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