Fonte: Rede Nossa SP
Movimento lançado pelo Sistema Nacional de Parques dos Estados Unidos foi abraçado pela organização de saúde, que defende uma maior presença de áreas verdes, e garantia de acesso a elas, especialmente no ambiente urbano, para melhorar a saúde das pessoas; contato com natureza melhora o sistema imune, facilita atividade física, reduz estresse e aumenta a convivência social
“Está se sentindo cansado, irritado, estressado? Considere tomar uma dose de natureza! É um medicamento não nocivo que alivia os sintomas incapacitantes da vida moderna. Natureza é recomendada para humanos de todas as idades. Os efeitos colaterais podem ser euforia espontânea, se levar menos a sério e desenvolver uma preocupação genuína por outras pessoas e o mundo onde vivemos.”
As mensagens divulgadas em vídeos engraçadinhos do grupo americano Nature Rx, que promove uma maior conexão das pessoas com a natureza, abriram um evento do Serviço Nacional de Parques (NPS) dos Estados Unidos no início de setembro em prol de um novo movimento que está tomando corpo em várias partes do mundo: parques saudáveis = gente saudável.
O tema foi um dos mais discutidos durante o Congresso Mundial de Conservação da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), realizado no mês passado no Havaí. A ideia é que preservar vegetações nativas em grandes parques, além de ser um bom negócio para o ambiente e a humanidade como um todo – pelos serviços ecossistêmicos que eles prestam (como água, ar limpo, regulação do clima, absorção de carbono, entre outros) –, é importante, também individualmente, para a saúde de cada pessoa que frequenta esses lugares.
A defesa dessa relação extrapolou o âmbito de ONGs e instituições científicas ligadas ao ambiente e foi abraçada pelos próprios órgãos de saúde. No ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da ONU, lançou o documento “Conectando prioridades globais: biodiversidade e saúde humana”, que compilou centenas de estudos científicos mostrando os benefícios que uma traz para a outra.
Estão ali listadas conexões nas mais variadas escalas, desde a planetária, com os grandes benefícios já bem conhecidos (além dos citados acima, também a oferta de nutrientes, produção de alimentos e possíveis medicamentos provenientes da biodiversidade, controle de pestes e doenças e polinização), aos impactos no nível mais pessoal.
O documento destaca, por exemplo, a relação entre a microbiota que vive nos nossos corpos – como os microorganismos que vivem na pele e no intestino e são fundamentais para fortalecer nossos sistemas imunológicos –, com àquela que está no ambiente.
“O reduzido contato das pessoas com o ambiente natural e a biodiversidade leva a uma redução na diversidade da microbiota humana, o que por si só pode levar à disfunção imunológica e a doenças”, alertam as organizações.
A diversidade microbial que está na natureza ajuda a regular a nossa própria, e quando essa regulação falha, pode acabar resultando em uma resposta imune contra o próprio corpo, levando a doenças autoimunes (como diabete tipo 1) e às múltiplas alergias. “Urbanização e perda de acesso a espaços verdes estão sendo cada vez investigados em relação ao aparecimentos dessas doenças não-transmissíveis”, ressalta o relatório.
De acordo com o documento, alguns estudos também sugerem uma relação entre a perda de contato com a diversidade microbial do ambiente a um controle mais fraco de processos inflamatórios de fundo, que parecem persistir em locais urbanizados de alta renda. Uma circulação persistente de mediadores inflamatórios pode predispor à resistência à insulina, síndrome metabólica, diabetes tipo 2, obesidade e doenças cardiovasculares.
Fator de saúde pública
Por causa disso tudo, e também porque a presença de parques, especialmente em áreas urbanas, são incentivos à atividade física e colaboram com a saúde mental, ao reduzir o estresse, promover relaxamento e bem-estar, OMS e CDB recomendaram que o contato com a natureza e estratégias para sua conservação sejam consideradas importantes fatores de saúde pública.
Nessa toada, o assunto tem virado um dos pontos de atuação da OMS. Será, por exemplo, um dos focos da Habitat III, reunião da ONU que ocorre a cada 20 anos sobre urbanização e será realizada de 17 a 20 de outubro em Quito (Equador).
A tarefa está a cargo do brasileiro Daniel Buss, ecólogo e doutor em saúde pública que está há pouco mais de um ano na OPAS, o braço para as Américas da OMS. É ele que também está colaborando com a campanha do Serviço Nacional de Parques dos EUA, desenvolvendo uma ferramenta para avaliar quanto e como os parques americanos contribuem para a saúde de seus frequentadores.
A ideia é que, por um lado, esse indicador sirva de incentivo extra para que mais pessoas visitem os parques. Por outro, trazer subsídios para que esses espaços sejam conservados e haja mecanismos para aumentar o acesso a eles. Esse trabalho também está sendo feito com parques do Chile.
“A lógica que passa uma mensagem poderosa é que: se as áreas verdes promovem saúde; se saúde é considerado um direito humano, como está desde 1946 na constituição da OMS; mas se o acesso aos parques não é universal, então estamos falhando em entregar saúde para todo mundo”, afirmou Buss ao Estado.
“Até 2050, 70% das pessoas do mundo vão morar em cidades, então é preciso pensar em intervenções urbanas. A ideia cada vez mais forte no setor de saúde é que é preciso promover estilos de vida saudáveis em vez de só combater doença. E uma iniciativa é um novo desenho urbano que permita mais deslocamentos de bicicleta e tenha mais parques e ciclovias conectando com esses parques para melhorar o acesso”, disse Buss.
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