Proteger as abelhas é dar espaço à natureza

Substâncias neonicotinoides usadas em herbicidas são apontadas como responsáveis por declínio da população de abelhas

O fato de a Comissão Europeia ter banido três inseticidas da classe dos neonicotinoides, provavelmente nocivos a abelhas, é à primeira vista uma boa notícia para o meio ambiente. Abelhas e muitos outros insetos – úteis e prejudiciais aos seres humanos – ficam mais bem protegidos.

Mas o fato de que os inseticidas não poderão ser mais usados ​​não significa necessariamente que as abelhas realmente passarão a ter uma vida melhor. É forte a suspeita de que os agricultores vão passar a recorrer a outros pesticidas, que provavelmente vão usá-los em concentrações mais altas. E é questionável  que essas substâncias sejam realmente mais seguras e melhores para os insetos do que as agora proibidas.

Uma coisa é clara: a agricultura moderna não se sustenta sem herbicidas. As pragas se adaptam muito rapidamente e podem matar colheitas enormes em tempo recorde. E há mais uma verdade incômoda – sobretudo para muitos amigos da agricultura orgânica. Apenas a agricultura industrial pode sustentar a crescente população mundial. Sem uma produção eficiente de alimentos, haverá crises de fome.

Existem soluções para este dilema, mas elas exigem maiores esforços conjuntos de pesquisadores, indústria e agricultura: pesticidas bem seletivos, apenas para pragas muito específicas. O melhor seriam aqueles agentes que já atuam no estágio larval e, assim, evitam que as pragas possam se desenvolver. Ao mesmo tempo, as substâncias não devem atuar sobre organismos benéficos.

Isso é muito mais complicado do que um inseticida de amplo espectro, com o qual é possível se proteger de muitas pragas ao mesmo tempo. Porque cada praga tem de ser reconhecida individualmente, com uma estratégia de combate. Isso requer um alto nível de conhecimento técnico entre os agricultores. Isso custa tempo, dinheiro e, no final, sempre haverá, apesar disso, prejuízos nas colheitas.

Muito mais importante para a preservação da biodiversidade seria algo bem diferente: temos que dar mais espaço à natureza, sobretudo nas áreas onde podemos investir sem arriscar grandes perdas.

Os legisladores devem delimitar faixas verdes ao longo de estradas e caminhos nos campos que não podem ser desmatados. Assim, arbustos, árvores e flores silvestres podem se expandir novamente. Em volume, isso não mudaria muito em relação ao rendimento de um campo industrialmente cultivado, mas seria um grande ganho para a natureza.

E também nas cidades e nos vilarejos de interior podemos fazer muito mais não só pelos insetos, mas também pelos pássaros: por que não damos mais chances ao prado com flores, onde agora existe um gramado bem cortado? Por que cada dente-de-leão precisa ser arrancado? Por que paisagistas criam enormes superfícies mortas de cascalho, nas quais cada suposta erva daninha é imediatamente arrancada ou queimada com o lança-chamas? Por que tudo é tão pavimentado e sem plantas?

Um pouco mais de “desordem” na nossa paisagem não faria mal. E então, abelhas, moscas polinizadoras, borboletas e companhia  também teriam novamente boas oportunidades de desenvolvimento – assim como muitos outros bichos.

Fonte: Deutsche Welle

 

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