As mudanças climáticas têm intensificado fenômenos extremos no Brasil, como as secas prolongadas e as queimadas. Não apenas no país, mas o continente da América do Sul está em chamas, enfrentando condições de seca que não eram vistas desde 1902. “Os incêndios estão fora de controle”, disse Efrain Tinta Guachalla, investigador sócio-territorial da Fundación Tierra, uma ONG boliviana dedicada ao desenvolvimento rural sustentável.
A alta incidência de focos de calor registradas este ano — mais de 154 mil, segundo o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) — evidencia a gravidade da situação. Ainda segundo o Inpe, em 10 de setembro, a fumaça já cobria 60% do território nacional, uma área de 5 milhões de quilômetros quadrados. As queimadas, além de causarem destruição imediata da vegetação, agravam o cenário climático ao liberar grandes quantidades de gases de efeito estufa, contribuindo ainda mais para o aquecimento global.
Amazônia
A Amazônia, que concentra 42,7% dos focos de calor, é um dos biomas mais impactados. Até setembro de 2024, mais de 5,5 milhões de hectares da floresta foram consumidos pelo fogo. Esse desmatamento desenfreado e as queimadas frequentes são catalisadores do aquecimento global, uma vez que a destruição da floresta tropical reduz sua capacidade de atuar como um sumidouro de carbono.
“Embora incêndios florestais ocasionais na Europa e na América do Norte sejam normais considerando o clima, a Amazônia úmida nunca foi feita para queimar. A flora e a fauna das florestas tropicais estão sendo exterminadas em taxas sem precedentes. Há uma enorme diferença na perda de biodiversidade”, complementa Efrain.”Florestas como a Amazônia são historicamente florestas tropicais, o que significa que nunca queimaram, nunca coexistiram com o fogo. Isso é terrivelmente trágico para o ecossistema e para o mundo. A Amazônia está no pior estado dos últimos 50 anos. ”
Pantanal
Outro bioma gravemente afetado é o Pantanal, que perdeu 2,5 milhões de hectares em 2024, cerca de 11% do bioma, segundo o Inpe. A seca prolongada, consequência direta das alterações climáticas, tem deixado o solo pantaneiro mais seco e inflamável, aumentando a propagação das queimadas. O agravamento das condições de seca se deve, em parte, à maior frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, que secam rios e dificultam o combate às queimadas.
Corredor de Fumaça
As queimadas também estão se tornando um problema de saúde pública. A fumaça das queimadas amazônicas está viajando milhares de quilômetros e atingindo estados do Sul do Brasil, como o Rio Grande do Sul, trazendo ar poluído que pode causar problemas respiratórios. Esse tipo de poluição atmosférica agrava ainda mais os impactos da crise climática, afetando tanto a qualidade de vida quanto a biodiversidade de várias regiões.
A cidade mais poluída do mundo
Recentemente, a cidade de São Paulo foi classificada como a mais poluída do mundo, segundo a agência suíça IQAir, que monitora a qualidade do ar em mais de 100 grandes cidades. O levantamento de 9 de setembro de 2024, colocou a capital paulista à frente de cidades como Lahore (Paquistão) e Kinshasa (República Democrática do Congo), com um índice de poluição do ar “não saudável” para a população. Esse índice reflete o agravamento dos incêndios no estado de São Paulo, onde a Defesa Civil declarou situação de emergência, com nove cidades enfrentando focos ativos de queimadas.
Ação Coordenada
Diante deste cenário, o combate às queimadas precisa ser intensificado, com medidas urgentes e políticas de preservação ambiental. No entanto, é fundamental reconhecer que a raiz do problema está nas mudanças climáticas globais. Sem uma ação coordenada para reduzir as emissões de carbono e promover a recuperação dos ecossistemas, os eventos extremos de seca, aumento de focos de calor favorecendo o alastramento de queimadas continuarão a se agravar, criando um ciclo vicioso de degradação ambiental e agravamento da crise climática.
3 Sep 2020. Pocone, Brazil. Reuters/Amanda Perobelli