Fonte: DW
Pesquisadores alertam que elevação do nível das águas é irreversível e poderá, no máximo, ter sua velocidade reduzida. Eles apresentam ferramentas para que regiões costeiras possam se blindar.
A temperatura média do planeta aumentou 1º Celsius desde o fim do século 19, e o nível do mar subiu cerca de 20 centímetros. Se o atual ritmo de emissão de gases causadores do efeito estufa se mantiver, os oceanos se elevarão, provavelmente, entre 50 e 130 centímetros até o final do século. A previsão é de um artigo da última edição da publicação científica Proceedings, da Academia Americana de Ciências.
“Com todos os gases do efeito estufa já emitidos na atmosfera, nós não podemos mais evitar a elevação dos níveis dos mares. Mas podemos limitá-la significativamente com o fim do uso de combustíveis fósseis”, diz Anders Levermann, do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático (PIK, na sigla em alemão).
Segundo as projeções do pesquisador, principal autor do capítulo sobre elevação dos níveis dos mares do último estudo do IPCC, mesmo se o aquecimento global for limitado a 2º Celsius em comparação com os níveis de hoje, as águas subiriam ainda entre 20 e 60 centímetros até o fim deste século.
Desafio da proteção da costa
Com uma simulação de computador, os autores oferecem a políticos, cientistas e seguradoras um instrumento para a proteção das costas e a prevenção de desastres.
“Com isso, nós queremos dar aos gestores informações de background necessárias para o planejamento de adaptação. Isso é importante para a construção de diques, conceitos da área de seguros e planejamento de logo prazo para assentamentos”, afirma Levermann.
Mesmo que se consiga limitar o aquecimento global a menos de dois graus e a elevação do nível do mar de 20 a 60 centímetros até o final do século, na opinião dos autores, os desafios para a proteção das costas pelo mundo são imensos.
“Mesmo um aumento reduzido dos níveis dos mares seria um grande desafio. Mas, ainda assim, é menos caro do que a adaptação a um aumento desenfreado, que inclusive seria totalmente impossível de ser feita em algumas regiões do mundo”, adverte Levermann. “Se o mundo quiser evitar maiores perdas e danos, devemos agora mesmo seguir o caminho dado pelo acordo da Conferência do Clima de Paris.”
Apoio para avaliação de risco
A simulação da elevação do nível do mar por computador considera a contribuição do derretimento das geleiras, a perda da massa das camadas de gelo nos polos e a expansão térmica da água do mar.
“Nossas ferramentas são projetadas de forma a combinar tanto observações do passado como também os processos físicos de diferentes elementos do sistema terrestre a longo prazo”, diz o autor principal do estudo, Matthias Mengel, do PIK. “Acima de tudo, entretanto, nosso método de cálculo pode ser reproduzido de forma rápida e fácil, tornando possíveis muitas simulações sobre a probabilidade da elevação do nível do mar.”
O software permite que os riscos sejam mais bem avaliados. “Os gestores da situação da costa marítima precisam de uma estimativa razoável do pior cenário como também dos casos mais favoráveis possíveis para poderem avaliar chances e custos”, explica o coautor da pesquisa Ben Marzeion, da Universidade de Bremen.
Na mesma edição, a Proceedings publicou outro estudo sobre a elevação do nível do mar, levando em consideração o fenômeno através dos séculos. “No milênio passado, o nível do mar nunca aumentou tão rapidamente como no século passado”, explica o autor Stefan Rahmstorf, também do PIK.
O estudo confirma suposições e sugere, segundo o climatologista, uma contundência jamais vista no fenômeno:
“Os dados reafirmam o quão raro é o aquecimento global através da emissão de gases do efeito estufa que estamos vivendo. Mostra que a elevação do nível do mar é uma das consequências mais perigosas das mudanças climáticas.”
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