Nenhum país mata mais ambientalistas que o Brasil, diz ONG

O Brasil foi o país que mais matou ambientalistas e defensores de terras em 2017, divulgou a ONG Global Witness, em um relatório classificado pelo governo Michel Temer como “fake news”.

O relatório da Global Witness, divulgado nesta terça-feira (24/07), aponta que o Brasil teve o maior número de mortes já registrado em um ano em qualquer país, com o assassinato de 57 pessoas, 80% delas tentando proteger a Amazônia.

Mundialmente, 207 defensores da terra e do meio ambiente foram mortos em 2017 nos países monitorados pela ONG, seis a mais que no ano anterior, fazendo do período o mais sangrento desde o início do levantamento em 2015. O Brasil é seguido no ranking por Filipinas (48 mortes), Colômbia (24) e México (15).

A ONG diz que, no Brasil, “a situação vai de mal a pior” e mostra especial preocupação com o aumento no número de chacinas no ano passado, quando o país foi palco de três massacres que, juntos, levaram à morte de 25 ativistas.

Os números incluem o massacre de nove trabalhadores rurais no Mato Grosso em abril, assim como a morte de dez agricultores sem terra no Pará em maio.

O governo Temer reagiu duramente ao relatório e qualificou os dados de “equivocados”, “frágeis” e “inflados”. Para o Planalto, a metodologia do levantamento é duvidosa.

“Denúncias falhas e mal apuradas são exemplo de fake news usadas para atacar o governo, cujo compromisso essencial tem sido defender o povo brasileiro”, diz nota da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência.

Para o governo, a ONG teria contabilizado como ativistas mortos em supostos conflitos agrários os assassinatos atribuídos por investigações policiais a ajustes de contas entre narcotraficantes.

A Global Witness não poupa críticas a Temer e afirma que, em vez de tomar medidas para acabar com os ataques, o presidente e o Congresso brasileiro estão ativamente enfraquecendo as leis e as instituições destinadas a proteger os direitos à terra e os povos indígenas.

A ONG lamenta, ainda, os cortes orçamentários de 30% para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e de quase metade do orçamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), o que obrigou a agência a fechar algumas bases regionais.

“[Temer ] facilitou, mais do que nunca, que indústrias, como o agronegócio – associado a pelo menos 12 dos assassinatos no Brasil em 2017, de acordo com as estatísticas da Global Witness, – imponham seus projetos sem consultar as comunidades afetadas”, diz a ONG, que cita uma assimetria de poder entre o agronegócio e seus apoiadores políticos e os povos indígenas, afrodescendentes e pequenos agricultores.

O governo brasileiro retrucou que o agronegócio é responsável por grande parte da geração de emprego e renda no país.

Os resultados do levantamento da Global Witness não indicam uma nova tendência: o Brasil também havia tido os resultados mais funestos no relatório da ONG sobre 2016, quando foram registrados 49 assassinatos no país.

A ONG alerta que os números reais de mortes provavelmente são ainda maiores devido aos desafios na identificação e na denúncia dos assassinatos.

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