Integrar lavoura e pecuária será questão de sobrevivência, diz estudo

Fonte: GHG Protocol Brasil

A agricultura brasileira se destaca entre os padrões globais de desempenho. Os modelos tradicionais de pecuária praticados no país, no entanto, têm um desempenho ainda anêmico. Dos cerca de 170 milhões de hectares destinados à pecuária extensiva, quase metade encontra-se em algum estágio de deterioração.  A degradação do solo faz com que a ocupação da área seja bem inferior ao potencial das áreas bem conservadas.

A atividade agropecuária exige, no entanto, cada vez mais uma busca por eficiência, que passou a ser uma questão de sobrevivência. Isso porque há um crescente custo de oportunidade da terra, limites na expansão da área de produção devido à legislação ambiental e exigências de um consumidor mais atento a boas práticas socioambientais. Avaliando essas questões, Adolfo Fontes, analista do Rabobank de proteína animal, e Renato Rasmussen, do setor de grãos do banco, fizeram um estudo sobre a necessidade e a viabilidade da integração lavoura-pecuária. A adoção do sistema possibilita recuperação das pastagens, adoção de práticas ambientais sustentáveis, redução de riscos e diversificação da renda do produtor.

A comparação de margens operacionais entre os diversos sistemas de produção aponta uma larga vantagem para o de integração. Dados do Rabobank apontam que, se o produtor fizer apenas o plantio de soja durante o ano, terá uma margem de R$ 410 por hectare. Se após a soja ele acrescentar a safrinha de milho, essa margem sobe para R$ 604. Quando a integração envolve a pecuária, o ganho é maior ainda. O plantio de soja, seguido de uma “safrinha de boi”, pode render R$ 743, segundo cálculos do banco. Durante o cultivo da soja, o produtor mantém também o cultivo de capim, que será consumido pelo boi após a colheita da oleaginosa. O produtor com solo favorável para a utilização de três safras -soja seguida de milho com capim e, na sequência, o boi- tem margem de R$ 937 por hectare.

ENTRAVES

Rasmussen e Fontes afirmam que a lista de benefícios da integração é animadora, tanto do lado agronômico como do ambiental e econômico, mas essa prática ainda encontra entraves. É um modelo complexo de produção e, muitas vezes, há despreparo do pecuarista no planejamento e no escalonamento da operação agrícola. Além disso, há ausência de suporte técnico, o que inibe a expansão. A infraestrutura precária também desfavorece a disseminação dessa técnica, apontam os técnicos. Apesar disso, Fontes e Rasmussen acreditam que o avanço da integração lavoura-pecuária será promissor nos próximos anos. Essa expansão será necessária porque cresce a conscientização do consumidor em relação à responsabilidade socioambiental na cadeia produtiva de alimentos.

Há uma maior disponibilidade de recursos financeiros para os que adotam o sistema de integração, apoiado pelo BNDES, via ABC (Programa de Agricultura de baixa Emissão de Carbono). Além disso, nas propriedades com solos com elevado teor de matéria orgânica, há aumento de produtividade. Já nas com solo menos estruturados, a integração é uma necessidade devido à retração dos preços de comercialização e das margens dos produtores. A integração vai permitir, ainda, melhora da produtividade brasileira na pecuária. O Brasil tem um rebanho que corresponde a duas vezes o dos EUA, mas produz menos carne do que os americanos, aponta o estudo do Rabobank.

BENEFÍCIOS

Os técnicos do banco destacam que, entre os benefícios agronômicos da integração lavoura-pecuária, estão o aumento de teor da matéria orgânica no solo, cobertura do solo durante todo o ano, conservação da água e pastagens em períodos de seca. Entre os benefícios ambientais estão recuperação de pastagens degradadas, redução de emissão de CO2 e aumento de produção de carne sustentável, entre outros. O estudo destaca, ainda, os benefícios econômicos, que passam por otimização do uso dos recursos da propriedade, mais receita financeira, menor demanda por insumos agrícolas e redução de custos na produção.